Agosto. Dá ideia que toda a gente ou está de férias ou está em regime de serviços mínimos ansiosamente à espera das ditas. Nesta morrinha leve, no meio do estupor causado pelo calor, rodeado por incêndios e entretido com os dias passados à beira-mar, o país lá vai andando meio anestesiado.
Na blogosfera o cenário repete-se. Escreve-se menos, comenta-se menos, já não há grande pachorra para polémicas ou debates. Mesmo assim, e enquanto não vou de férias, não posso deixar de comentar a recente notícia de que há uma empresa (irlandesa?) que nos seus anúncios de recrutamento avisa explicitamente que os fumadores escusam de responder. Segundo o seu gerente (dono?), fumar constitui um acto idiota revelador da estupidez do praticante, e como ele obviamente não quer empregar pessoas estúpidas, nada mais lógico que excluir à partida os fumadores.
Perante este flagrante caso de discriminação, a sempre atenta e por demais importante comissão europeia, liderada pelo sempre atento e por demais importante José Manuel Barroso, foi chamada a pronunciar-se e declarou que não há na legislação comunitária nada que impeça esta tomada de posição. Se a questão fosse excluir com base em raça, idade, religião, sexo e outras que tais, aí sim, aqui d'el rei que a dita empresa iria sentir a pesada mão da comissão, mas em relação ao acto de fumar a omissão na lei representa na prática uma autorização.Ora eu, que não fumo e que até concordo com as restrições relativas ao tabaco nos locais de trabalho e nos espaços fechados como medida de promoção da saúde pública, acho que é necessário tomar uma posição forte contra este modus operandi, que até pode ser legal mas que representa uma escandalosa intromissão na esfera pessoal de cada um. O exagero do politicamente correcto, a busca do homem perfeito, liberto de vícios e pecados, não nos pode conduzir a uma sociedade saudável, muito pelo contrário. As tentativas de formatação, de homogeneização dos indíviduos, de selecção de características julgadas ideais por alguns iluminados, tiveram sempre resultados trágicos. Se deixamos passar hoje a questão do tabaco nestes moldes, o que virá a seguir?
Cada vez mais, big brother is watching you...