1.3.07

Fim.


Há já algum tempo que tenho vindo a negligenciar este blog. Passado o entusiasmo inicial, satisfeito o ego com a visão narcisística dos próprios escritos, com as postagens sobre tudo e sobre nada, muitas vezes a horas pouco compatíveis para um marido, pai de família e micro-nano empresário que se vai esforçando por ser responsável, confesso que me sinto algo saturado. Os dias vão e vêm sem que sinta vontade ou inspiração para escrever. Chego inclusivamente a passar 24 horas seguidas sem sequer ligar a internet, o que aqui há uns meses seria mais que suficiente para despertar os suores frios e os tremores típicos dum qualquer síndrome de abstinência.
Para além do exposto, a verdade já conhecida pelos visitantes regulares aqui do tasco (os 2 ou 3 que estoicamente foram resistindo) é que há mais de 1 ano que mantenho uma vida dupla alimentando também outro blog, o que resultou numa rotina por demais fastidiosa. Escrever, muitas vezes incluindo fotos e links, postar, ler, voltar atrás para corrigir eventuais gralhas, voltar a ler, copiar, postar novamente mas agora no outro blog.
Tudo isto porque custa de facto um pouco o criador matar a sua criação. Ou talvez porque achei que o outro blog (sendo em grupo) podia inibir os ilustres comentadores residentes do amsa dixit, ber latinus e folha seca, de continuarem a usar as caixas de comentários para polemizar comigo, um com o outro ou até mesmo para falarem de outro tema qualquer sem relação possível ou imaginária com o post original. No fundo razões de lana caprina, pífias justificações para adiar o inevitável. Mas já chega. Por mais que me custe, não voltarei a postar aqui no amsa dixit.
Para já vou deixá-lo assim, comatoso, sem actividade mais ou menos cerebral. Falta-me ainda, por ego e por vaidade, a coragem de desligar a máquina e eutanasiar o doente. Assim posso ainda vir cá visitá-lo, passear talvez pelos arquivos, saciar a fome à saudade, o mais português dos sentimentos.
Foi um prazer.
amsa.
P.S.- a saga continua, para já, aqui (sob o alter-ego wolverine). Fica o convite feito.

11.2.07

9.2.07

Adivinhar o futuro.

Há quem use búzios, ou cartas, ou folhas de chá no fundo duma chávena. Há quem procure ler as estrelas, os alinhamentos cósmicos, ou as palmas das mãos. Também há adivinhos de bolas de cristal, consultores de espíritos, invocadores de oguns, xóguns e outros que tais. Tudo isto para responder a uma das nossas maiores angústias enquanto seres humanos: o futuro.
Saber de antemão os números do totoloto acarreta um aumento significativo da probabilidade de acertar. Conhecer o resultado final de um jogo de futebol pode fazer maravilhas para diminuir o stress e evitar o recurso aos mais coloridos dos vocábulos do dicionário. Divisar logo pela manhã que um dado dia irá incluir sexo permite escolher a melhor cueca, deixando de lado os slips desbotados pelo selo e com o elástico já gasto, e as meias com o buraco no dedão. O mesmo tipo de prevenção que um tipo pode exercer se souber de fonte segura que mais logo pela tardinha vai parar ao hospital.
Por outro lado, e como é comum num mundo cada vez mais falho de crenças e de fé, há também aqueles que por notória falta de imaginação e de criatividade pura e simplesmente não acreditam em nada, muito menos na possibilidade de prever o futuro. Vivem o momento, satisfeitos na tranquilidade que dá aceitar as coisas que não podem controlar. Usam quanto muito uma boa dose de bom senso (o que me parece algo pleonástico mas adiante) e um conhecimento mais ou menos pormenorizado dos acontecimentos passados como forma de adivinhar o porvenir. Tipos desta laia, apesar de se gabarem do seu estatuto de não crédulos, têm uma tal confiança nas suas capacidades dedutivas que frequentemente chegam a conclusões tão inabaláveis que numa demonstração testosterónica de fanfarronice e estupidez natural proclamam alto e bom som ser capazes de apostar um testículo nelas.
Eu por exemplo não preciso de ser a amiga Maya para apostar um dos meus referidos orgãos em que daqui a 7 anos Cavaco continuará a ser PR e o outro para alvitrar que pela mesma altura ainda estaremos a divergir da Europa nas estatísticas do economês.
Finalmente há ainda aqueles que dizem que o futuro a Deus pertence, mas não se eximem de tentar através de rezas e promessas condicionar o supremo arbítrio do divino.Aqui chegado, assalta-me a recorrente sensação de que como é costume voltei a cometer o pecado da divagação, a misturar alhos com bugalhos, enfim a perder-me um pouco nesta sensação de formigueiro libertador que me dá na ponta dos dedos quando estou entretido a escrevinhar alguma coisa.
Neste caso, o factor desencadeante foi este: duvido que qualquer bruxo, adivinho, crente religioso ou mesmo mero analista especialista de informática e estatística pudesse prever o sucesso que isto ia ter.

8.2.07

Ao ataque


Mário Soares apresentou o livro 'Vítimas de Salazar' e não deixou de aludir ao concurso da RTP.
"O fascismo assassinou, deportou, censurou e exerceu toda a espécie de violências"

Um grande português, combatente primeiro anti-fascista e depois anti-comunista, pilar essencial do PREC e da transição suave para a democracia, impulsionador da descolonização, primeiro-ministro, motor da adesão de Portugal à CEE, presidente da república, homem das mil viagens, das presidências abertas e das forças de bloqueios, gerador de ódios e paixões, teimoso, culto, vaidoso, agnóstico, excessivo nos gestos e atitudes, bonacheirão, ligado à maçonaria, à CIA, e a histórias duvidosas como os diamantes de Angola e as confusões de Macau, enfim, uma personagem que não deixa ninguém indiferente e que marcou para sempre o século XX português, aqui num pequeno contributo para evitar que um concurso de génese populista e aparentemente fácil de ser manipulado consiga de algum modo diluir o passado.

4.2.07

Finalmente alguém descobre a solução, 9 anos depois do 1º referendo e já na campanha para o 2º...

Acabo de ouvir na rádio o excelso Dr. Alexandre Relvas, o estratega de campanhas a quem Cavaco Silva já chamou o seu Mourinho, defender uma posição sobre o referendo à despenalização ao aborto que chega a parecer inspirada na sátira do gato fedorento ao Professor Marcelo. Segundo o Dr. Relvas a solução seria algo deste estilo:
Caríssimas portuguesas e portugueses, votem não numa demonstração inequívoca de respeito pela vida humana. Mas caso se vejam necessitados, por capricho, falta de dinheiro, tempo ou espaço para mais um miúdo lá em casa, a realizar um aborto em qualquer altura da vossa gravidez saibam que soluções não faltam. Caso tenham posses sugiro o costumeiro passeio a uma capital europeia do vosso agrado, onde podem sempre fazer umas comprinhas nas lojecas da moda. Caso sejam só remediados continuam a ter a opção de resolver o problemazito já aqui ao lado na amiga Espanha, podendo até aproveitar para comprar caramelos e atestar o carro. Caso não tenham onde cair mortas resta-vos ainda e sempre o ancestral recurso a um qualquer vão de escada infecto e badalhoco, com a suprema vantagem de não correrem o risco de ser presas ou perseguidas pela polícia no caso de terem complicações graves que vos obriguem a ir parar ao hospital.

Enfim,
é crime? sim.
pode-se fazer a qualquer altura da gravidez desde que não seja num estabelecimento de saúde legalizado? sim.
o que é que acontece a quem o faz? nada.

1.2.07

Haja paciência...

À conversa com empresários chineses, o ministro da Economia Manuel Pinho apontou a nossa baixa média salarial comparativamente aos restantes países da UE como uma das razões para justificar o sino-investimento cá no burgo.
Ora, como a declaração do ministro é uma mera constatação do óbvio, o coro de protestos ao melhor estilo de virgens ofendidas que uniu partidos da oposição e sindicatos só se compreende à luz de alguma demagogia e aproveitamento político. Isto não invalida que comece a ser de bradar aos céus a falta de tacto do Dr. Pinho, que fiel ao seu historial de só ser notícia por maus motivos (a declaração que "a crise acabou", o caos com a ERSE e respectivas audições parlamentares, etc...) vem agora criar nova confusão ao melhor estilo cada cavadela cada minhoca. Ainda para mais num governo que conseguiu há poucos meses um acordo histórico entre todos os parceiros sociais para uma melhoria plurianual significativa do salário mínimo.
Será que como a oposição a Sócrates é pura e simplesmente inexistente alguns ministros se sentem estranhamente compelidos a agitar as águas?

12.1.07

O Luisão

O Luisão foi apanhado de madrugada a conduzir com excesso de álcool no sangue (coisita pouca, afinal eram só 1,33g/l).
O Luisão deu depois uma conferência de imprensa em defesa do Luisão.
O Luisão disse que o que aconteceu ao Luisão podia acontecer a qualquer um.
O Luisão disse que o Luisão estava jantando com a esposa e um casal amigo e que bebeu vinho, sendo que o Luisão disse que o Luisão gosta de vinho.

Ora, o amsa até acha que o Luisão tem razão e que isto podia de facto acontecer a qualquer um (desde que esse qualquer um tenha carta, carro, beba muito para além da conta e depois decida conduzir).
O amsa até compreende o Luisão e o amsa julga inclusivamente que tal como no caso do Nuno Assis isto tudo não passa no fundo de uma vergonhosa perseguição do governo ao Benfica, orquestrada certamente pelo Pinto da Costa para desviar os olhares da Catarina e do apito.
O amsa chega até ao ponto de achar que o senhor Juiz, numa atitude de coragem com risco para a saúde do senhor Juiz, se demarcou desta horrível cabala decidindo que o Luisão terá de cumprir 40 horas de serviço comunitário mas que o Luisão não ficará inibido de conduzir.
O amsa, que tal como o Luisão também gosta de vinho,não se esquecerá de invocar esta sábia sentença na eventualidade de numa destas madrugadas ser apanhado com álcool a mais na asa.

6.1.07

10 milhões de euros...

É quanto vai custar a realização do referendo ao aborto.
Ora,

não esquecendo que nas duas anteriores experiências a maioria do povo português mostrou bem o quanto (não) preza a possibilidade de se manifestar em referendo sobre um dado tema, preferindo adoptar a espantosa abordagem estilo "elegemos os gajos precisamente para decidirem e agora os gajos querem chatear-nos com estas merdas e portanto porra para eles nem sequer vamos tirar o cú do sofá"...

vem por este meio o signatário do presente post declarar que caso a abstenção volte a ganhar no dia 11 então não restará outra solução lógica ao parlamento que não seja a abolição pura e simples do instituto do referendo.
Aplicam-se as sacrosantas leis do mercado: um produto que não desperta interesse tem naturalmente tendência a acabar.

4.1.07

Uma praga dos tempos modernos

Fiel a uma estratégia gizada há uns anos, neste Natal e passagem de ano voltei a não responder a nenhum dos sms que recebi e voltei a não ter a iniciativa de os enviar.
Sem surpresa, e confesso até que com alguma alegria, verifiquei que lentamente, quase de forma imperceptível, os frutos deste não labor, desta estudada indiferença vão aparecendo e se há uns anos via o meu telemóvel apitar irritante e incessantemente com dezenas de mensagens pré-formatadas e pretensamente engraçadas, este ano recebi apenas 4.

Nas palavras de um tipo com o qual muitas vezes discordo:
"...as pessoas deixaram de conversar porque a conversa, no sentido mais elevado do termo, implica disponibilidade, gentileza e imaginação. Por isso se enviam estes farrapos de conversa, que significam nada porque nada é o que as pessoas têm cada vez mais para dizer umas às outras..."
João Pereira Coutinho, Expresso 30.12.2006