16.11.06

No meio das pedras e dos chicotes...

De tempos a tempos, contrariando uma visão da mulher que parece comum a grande parte do mundo islâmico (como um mero instrumento de posse, sem direito a escolher com quem casar, o que vestir, onde ou como trabalhar, etc...), lá aparecem umas notícias que, enfim, lançam uma pequena esperança de que o estado actual das coisas não é uma fatalidade inalterável. Será uma mera luz ao fundo do túnel, eventualmente até uma vitoria de Pirro se tivermos em conta as reacções dos partidos religiosos, mas mesmo assim esta iniciativa merece ser saudada.

9.11.06

Perdedores.


O dia de ontem foi marcado pelas eleições americanas, cuja influência é tal que há quem sugira meio a sério meio a brincar que o assunto é importante demais para ser decidido só por eles.Desta vez não houve milagres de última hora para contrariar as sondagens e os republicanos perderam mesmo a Câmara dos Representantes e provavelmente o Senado.
Não lhes valeu a roda viva em que Bush passou os últimos dias, nem a gafe de John Kerry ou a sentença de Saddam. Não lhes valeu usar o medo como arma eleitoral, nem o recurso a truques pouco edificantes como os negative adds ou até insinuar o suposto anti-patriotismo de alguns democratas (por se atreverem a discordar do rumo seguido no Iraque ou do uso de tortura nos interrogatórios de suspeitos). Não houve voto evangélico salvador.
Visto de fora, nem sequer se pode dizer que o mérito é inteiramente dos democratas mas sim da conjugação entre o crescente número de baixas americanas no Iraque (agravado pela percepção cada vez mais clara de que não há uma estratégia para resolver o futuro do país, quanto mais torná-lo num exemplo de democracia...) e o acumular de escândalos comprometedores envolvendo alguns dos principais elementos do Partido Republicano.

Dá-me vontade de rir as teorias que começam a circular por aí (nos blogues do costume) de que quem está contente com este resultado só pode ser o povo de esquerda que festeja as vitórias de Lula e simpatiza com Castro, Morales ou Chavéz. É tão fácil meter tudo no mesmo saco e brandir a estafada acusação de anti-americanismo primário. Eu, que estou contente porque Bush e a sua doutrina perderam, não aceito esse rótulo.
Pode ser um excesso de optimismo ou até ingenuidade, mas acredito que a partir de 2008 o próximo Presidente (seja ele o republicano McCain ou a democrata Hillary) não cometerá os mesmos erros de Bush, mesmo que a política externa dos EUA se mantenha mais ou menos igual.

2.11.06

À conversa com uma mulher de 70 anos...

A simpática madame, mulher de armas, resistente de muitas batalhas, com uma vida de trabalho de sol a sol no campo e 24 sobre 24 em casa, com uma tolerância à dor de fazer inveja a muito pseudo-macho que por aí anda, afectada por um severo caso de pelosidade malina quer facial quer nos apêndices locomotores, dissertava, daquela forma que só as pessoas verdadeiramente genuínas sabem fazer, sobre a sua relação com o marido.

Contava ela que, mesmo com mais de 50 anos de casamento, ainda se dão muito bem ou melhor sempre se deram bem. Riem-se, ela vai-se metendo com ele porque ele é mais do estilo calado e nunca, mas mesmo nunca discutiram. Nem uma vezinha que fosse. E isto derivado da forma de ser dos dois e da forma como ela foi educada, sendo que teve uma avó que muito lhe ensinou. E deu como exemplo esta pérola que passo a partilhar:
"A minha avó dizia para olhar sempre com atenção para a cara do marido quando ele entrasse em casa. Se vinha chateado, aconselhava-nos a fazer duas coisas: primeiro devíamos encher a boca de água, isto para não correr o risco de dizer algo que o irritasse, e depois devíamos esconder da vista ou pelo menos arrumar para um canto qualquer banquito que houvesse na cozinha, isto para não correr o risco de levar com ele nas costas."

Antes de se ir embora, ainda se ria bem disposta quando disse "ah eu digo estas coisas mas a verdade é que com esta barba tão forte eu podia bem ser homem".