26.2.06



6ª feira à noite. Liga-se a televisão e como sempre nada de jeito. Novelas brasileiras de um lado, novelas portuguesas de outro, isto sem esquecer o mais idiota dos concursos que tenho visto nos últimos anos. Sobra a RTP 2. Chamem-me elitista à vontade mas é o único canal suportável entre as 21h e as 24h. Estava a dar um documentário sobre o senhor da foto, Júlio Pomar, que comecei a ver de lado, digamos assim como que em diagonal, mas que rapidamente me cativou a atenção. Superiormente realizado por um tal de António José de Almeida (que nem sequer vou fingir saber quem é...) mostra o trajecto do pintor por ordem mais ou menos cronológica e divide-se em testemunhos do próprio Pomar e de personalidades tão diversas como interessantes: Lobo Antunes, Siza Vieira, Mário Soares (acerca do fabuloso retrato dito informal exposto em Belém), para além de vários críticos de arte que eu naturalmente não poderia conhecer por manifesta ignorância acerca da área. O discurso directo dos intervenientes (fantástico o pormenor de não se ouvir uma vez sequer a voz do realizador) vai sendo enriquecido com imagens dos quadros de Pomar. Com 60 anos de carreira, o que é uma lição para todos aqueles que só pensam em se reformar o mais rápido possível, atravessou diversas fases desde pintura livre e gestual a colagens, de temas eróticos a retratos e ilustrações de obras literárias, até ao campo da escultura.

Ficou-me na memória uma situação contada por António Lobo Antunes, que falando acerca da longevidade e vontade de trabalhar de Júlio Pomar, contou que um dia uma sua empregada se virou para ele e lhe perguntou "porque é que o Sr.Pomar, já com os filhos criados, trabalha tanto?". O documentário dá a resposta nas palavras do próprio: "faço o que me apetece".Num país que dá constantemente valor ao acessório e aos famosos instantâneos do boato fácil e das revistas cor-de-rosa, é bom descobrir gente assim.

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