Presumo que o gajo que inventou o provérbio "o barato sai caro" não tenha tido em vida a devida consideração, mas para mim é sem dúvida um génio póstumo.
Na recente ida a Paris optei pela 1ª vez por viajar através da Ryanair. Na viagem de ida tudo correu bem, se descontarmos o atraso de quase 2 horas na saída. Chegámos a Beauvais, um aeródromo travestido de aeroporto a 80 km's da cidade luz e apanhámos um autocarro merdoso, travestido de transfer, até lá. Já a viagem de regresso, essa, ulálá, foi outra história completamente diferente.
Tendo sido marcada há meses, acabou por calhar em cheio no fatídico dia 4 de Abril, infelizmente escolhido pelos "enfants de la patrie" para mostrar a sua conhecida propensão para o protestantismo militante (o que em relação ao caso em apreço, não lhes tira razão). Acordámos (eu e a partner) às 5h e apanhámos 2 metros para chegar ao local de partida do transporte para o aeroporto às 6h20min. Aí chegados antes do nascer do sol, damos de cara com um tipo cuja única identificação era o kispo a dizer aeroporto e que, ao ar livre e em pleno parque de estacionamento, nos informa num inglês que com a dose extra de simpatia que por essas horas ainda tinha em stock posso classificar de macarónico que: "airport closed" e que "no flights" tudo isto devido à "strike". Perante isto, optámos por nos dirigirmos ao Aeroporto Charles de Gaulle, juntamente com duas portugas que já tinham passado todo o dia anterior a tentar também elas sair de alguma forma daquela fantástica cidade. E chegados ao Aeroporto, meus amigos, descobri alguns factos interessantes sobre o mundo das viagens aéreas, que resumidamente passo a partilhar.
Saberão vocês, porventura, qual é a diferença num bilhete de ida Paris-Porto entre aquela irritante e difusa categoria dos jovens e os outros, meros adultos? A resposta é 669. Euros. Os mesmos que separam os 131€ da taxa aplicada aos 1ºs dos 800€ cobrados aos 2ºs. Como se isto não fosse já suficientemente ridículo, viemos ainda a descobrir que caso optásssemos por comprar bilhetes de ida e volta estes ficariam por 557€, ou seja, 2 viagens custariam neste caso menos 243€ que uma só, o que vem dar razão aquele outro génio póstumo que relacionou a lógica com um conhecido tubérculo.
De mãos na cabeça e a fazer um esforço sobre-humano para não verbalizar a apreciação que por esta altura já me mereciam os grevistas em particular e La France em geral, eu e a fiel partner decidimos explorar outras hipóteses, nomeadamente fazer a viagem em TGV (obviamente também bloqueado, que os camelos quando fazem greve não brincam) e, como a esperança é a última a morrer, o eventual aluguer de um carro (pelo qual nos pretendiam cobrar cerca de 800€, o que me permitiu concluir que tal como nos aviões, se o carro for só de ida é muito mais caro...)
Perante a perspectiva de voltar para uma Paris bloqueada, sem metro e sem hotel onde ficar, juntamente com a real possibilidade de perder mais 2 dias de trabalho, decidimos num acesso de loucura e de novo riquismo bacoco estourar 1.114€ para voltar.
Assim sendo, resta-me dizer que vivam os direitos adquiridos, vivam as greves que eu nunca fiz, vivam os jovens estudantes dos liceus e os comunas dos sindicalistas que lhes mexem nos cordelinhos, viva a "racaille" que atira pedras, assalta lojas e rebenta montras, viva o CPE e o novo esclavagismo, enfim vive la France e os jovens menores de 25 anos, que podem ser tratados como cães no mercado de trabalho mas merecem taxas fantásticas se decidirem viajar de avião.
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