18.10.05

desabafos

escrito em Out 2005

DESABAFOS…

Para me aliviar…
Para manter contacto com amigos ausentes…
Para serem lidos até ao fim…ou apagados a meio…
Para passar tempo…
Para eliminar algum bílis acumulada…
Para exagerar, ironizar e polemizar…


Onde se vai falar de coisas como líder sindical, função pública, especificidade e nomeações…

Nos últimos meses tem-se assistido na comunicação social (escrita, vista e ouvida) a uma catadupa de protestos por parte de algumas classes profissionais em relação aos “ataques do Governo aos funcionários públicos”. Com especial protagonismo tem aparecido, aliás como sempre nestes momentos, a figura do legítimo representante e defensor dos chamados direitos adquiridos dos trabalhadores, o líder sindical…Ora a mim, que não sou funcionário público (mas que quer na família quer em amigos mais próximos privo com muitos e acho-os muito bons profissionais…o que se diz aqui por ser verdade e porque também eles estarão a ler estes desabafos…) só a simples expressão líder sindical chega e sobra para me arrepiar os pêlos (o que como imaginam é um grande incómodo, porque eles são muitos). Quando ouço estes senhores dá-me invariavelmente vontade de entrar no debate, o que com a curiosa excepção dos fóruns radiofónicos, quase nunca é possível. Assim sendo, e tendo em conta a excelente relação preço/capacidade de divulgação, surge como alternativa mais válida a utilização da Internet, onde todos os disparates são permitidos e não pagam imposto. Deixo-vos então no ar ou melhor na web algumas ideias…

-se acreditarmos piamente nos líderes sindicais chegamos a conclusão que no Portugal de hoje, a mais esgotante das ocupações é ser funcionário público, independentemente da profissão exercida. Para comprovar esta tese usam eles o fabuloso termo especificidade. É a especificidade dos polícias que se têm de reformar aos 55 anos, é a especificidade dos enfermeiros que não podem trabalhar para lá dos 57 , é a dos médicos que só vão até aos 60 ou a dos professores do ensino básico que à força da especificidade das crianças só chegam aos 55, etc… Isto sem esquecer os políticos que durante anos atingiam reformas vitalícias após 8 ou 12 anos de trabalho (deputados da Assembleia da República) ou cujo tempo de trabalho contava a dobrar!!! (autarcas) o que nos permite ter, entre outras pérolas, o Dr. Santana Lopes reformado aos 50 anos…
Dando de barato que tudo isto se deva passar assim, então o que pensar acerca de profissões como operário de construção civil (ex-trolha) ou operária têxtil ou pescador ou camionista ou…Será que não terão também eles direito a alguma especificidade? Será que não terão também eles um grande desgaste ao longo da vida?
Alguém compreende que uns tenham que trabalhar até aos 65 para que outros se reformem antes? Ou será que tal como os animais do Orwell, somos todos iguais mas uns são mais iguais que outros? É ou não lógico que numa altura em que a esperança média de vida aumenta cada vez mais também tenhamos todos que trabalhar mais tempo para assegurarmos o direito à reforma? Será melhor ficar tudo igual e assobiar para o lado, para que quando chegarmos às idades acima referidas não haja dinheiro na Segurança Social e tudo se resuma aos sistemas tipo “EUA” de fundos privados para quem tem dinheiro e palmadinhas nas costas mais chutos no rabo para quem não tem?
Sei que alguns dos argumentos que uso são excessivos, talvez a raiar a demagogia, mais típicos de um revolucionário neo-liberal que de um tipo que se diz de esquerda, mas o que raio é que se pode responder perante argumentos como…”os polícias com mais de 60 anos não podem perseguir os ladrões…” (como se fosse comum ver policias a correr atrás de alguma coisa que não multas ou donuts do dia ou como se não pudessem fazer trabalhos dentro das esquadras” ou argumentos tipo…”um enfermeiro com mais de 60 anos pode ser um perigo para os doentes”… o que para além de ser um insulto incrível às pessoas dessas idades é tomar-nos a todos por parvos.

Voltando à subitamente famosa Especificidade tenho que concluir que se tornou hoje em dia pelo menos tão omnipresente como Cristo e com um número talvez maior de seguidores. Tanto é citada pelas diferentes profissões numa luta tipo testosterónica para ver quem a tem maior (a ela: a especificidade) como se vê usada como justificação oficial da Pátria perante Bruxelas para os nossos atrasos, tipo o mau aluno encostado no canto a clamar aqui d’el Rei que se tem de levar em conta a nossa…especificidade.
Que se fosse uma empresa cotada numa qualquer bolsa mundial estaria com um valor altíssimo e nós, Portugueses, seríamos provavelmente os maiores accionistas.

Caminhando ao longo deste desabafo de temporário ócio nascido (ou seja, os doentes faltaram…) eis nos chegados às Nomeações. Contrariamente à especificidade que está em todo o lado e sempre presente, as nomeações são mais como as colheitas, funcionando por ciclos e regadas certamente com produtos corantes já que as “sementes” saem sempre rosas ou laranjas. Se alguém se escandaliza com nomeações em que é claro que qualquer semelhança entre as competências requeridas e o curriculum vitae do nomeado não passam de mera coincidência, logo tem que levar com o fantástico argumento da injustiça de avaliar à priori e que só se deve pronunciar no fim da comissão de serviço…
Ainda neste capítulo das nomeações, outra coisa que espanta até o mais pintado é a tremenda versatilidade de alguns indivíduos (tipo os futebolistas polivalentes que jogam à frente mas também no meio e se preciso for dão um jeitinho atrás, consoante o adversário, o estado da relva e a pressão do couro insuflado…) Eles, os nomeados crónicos, tanto podem ser ministros como secretários ou mesmo sub-secretários, representantes disto ou daquilo ou coordenadores daqueloutro, gestores da coisa pública tanto cá como lá por fora, executivos de fundações criadas à medida ou de institutos variados. Mas nem tudo são rosas para estes nomeados, já que é relativamente frequente perderem o trabalho, ou melhor, o emprego. Mas também não vem daí mal ao mundo pois se começam por ser nomeados como predestinados e logo depois exonerados como inadaptados e falhados, são quase sempre mui bem indemnizados pelo que acabam por sair invariavelmente calados com a certeza de no futuro serem novamente seleccionados.

Se porventura leram até aqui estes meus desabafos, aceitem beijos e aceitem abraços e obrigado pela paciência.

Sem comentários: