20.10.05

os tugas

Em termos usados num contexto futebolístico e tendo em conta os nomes atribuídos à nossa selecção nacional de futebol de 11, podemos observar que em tempos idos já fomos magriços, já fomos patrícios, já jogámos sob o título de lusos e actualmente, pelo menos a fazer fé no último cognome usado, somos conhecidos como os tugas.
Porque será que usamos como nome de guerra uma abreviação brejeira de um substantivo (portugas) que desde sempre é usado em tom depreciativo, e porque é que tal facto não causou estranheza ou protestos de maior?
Parece-me a mim que a resposta a ambas as questões tem a ver com uma certa identificação colectiva (mas não individual!!) com o nome usado.
É verdade ou não é que todos incorporamos no nosso imaginário a ideia do Português como um chico -esperto, sempre à procura da melhor forma de conseguir atingir algo mais dando algo menos? Que muitas vezes procuramos justificar algumas atitudes que sabemos não serem 100% correctas com noções como...as regras do jogo são assim...toda a gente faz igual...ou até há quem faça bem pior? Que os maus condutores são sempre os outros? Que cada um de nós é um campeão de civismo, mesmo que enquanto povo esse conceito esteja longe de nos poder ser aplicado?
A resposta a todas estas questões só pode ser sim. Como tal, convido os eventuais leitores a deixarem como comentário a este post não só a vossa opinião sobre o tema como também um exemplo de uma atitude que vos pareça ser demonstrativa e merecedora desta condição, deste estatuto de TUGAS..
Vamos quiçá lançar as bases dum futuro "Manual do Tuga", livro que pode vir a revelar-se muito útil para algum estrangeiro que se queira familiarizar com os nossos hábitos e costumes. Para dar o mote, lanço desde já duas histórias que para mim simbolizam aquilo que é ser um tuga na acepção total do termo:

história 1- um destes dias no consultório estava eu ocupado com um paciente quando a minha assistente me informa que na sala de espera estava um senhor que queria uma declaração de presença. Apesar de me ter apercebido logo do objectivo do tipo, decidi mandá-lo entrar para confirmar presencialmente se aquilo que me parecia surreal não seria afinal bem concreto. Este foi, aproximadamente, o diálogo ocorrido:
o tipo- " eu só queria uma declaração de presença do dia 15"
eu- "mas isso foi há 2 semanas.O senhor é aqui paciente? o senhor esteve cá nesse dia?
o tipo-"Não, mas precisava muito dessa declaração e estou disposto a pagar uma consulta se for preciso"
eu- "mas se não esteve cá eu não possso dizer que esteve..."
o tipo-"é que me dava jeito para não pagar uma multa de 40 contos".... !!!!!
Isto tudo vindo de alguém que nunca tinha lá ido e não me conhecia, o que me leva a concluir que devia estar a fazer a ronda das diversas clínicas da área a ver quem lhe dava o jeito...

história 2- no hospital Santos Silva em Gaia, um cirurgião está a cumprir a sua urgência à noite quando lhe aparece uma paciente que quer extrair um dente. Ele tentava explicar-lhe que não era dentista e que não o poderia fazer, mas eis senão quando a dita senhora lhe confessa que o dente já tinha sido extraído e que agora estava outra vez na boca. Perante o ar incrédulo do médico, ela contou que tinha ido durante esse dia tirar o dente a um dentista e que após a extração pediu para ver o dente, tendo ficado desconfiada que aquele dente que lhe estavam a mostrar não era o dela mas sim outro qualquer! Ficou assim em posse do dito cujo e para confirmar as suspeitas decidiu tentar testar se o dente correspondia ao "buraco" que tinha na boca. Fez força para o colocar, ele entrou e depois já não o conseguiu tirar, daí a ida ao hospital para extrair novamente o mesmo dente... !!!!!

Sem comentários: