19.9.06

O valor das palavras.

Hoje ouvi um tipo na rádio (um daqueles em que o título académico já quase faz parte do nome próprio) contar uma história em que entre outras coisas se ficou a saber que a sua nora o trata por tio. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. O tio isto, o tio aquilo. Confesso que não compreendo. Aliás da mesma forma que não compreendo que por exemplo alguém possa chamar pai e mãe aos sogros ou até filho/filha a um genro ou nora, por mais que se goste dessa pessoa.
Talvez porque sinto, lá bem no fundinho daquelas células onde se sentem os sentimentos mais profundos, que há palavras que têm muita força, palavras que representam algo ou alguém único e insubstituível. Diz a cantilena que mãe é a maior palavra pequena que o mundo tem. Diz a sabedoria popular que mãe há só uma e que tem uma mãe tem tudo. O mesmo se aplica à utilização da palavra pai ou mesmo da palavra filho/a. Para mim são termos que representam não só ligações biológicas e laços familiares mas fundamentalmente afectos, carinhos, paixões mesmo. Não tem nada de banal ou de corriqueiro e não deviam portanto estar ao sabor dos usos e formalismos do jet-set ou das convenções e contextos sociais. Nem na foz do Porto nem na linha de Cascais.

P.S.- Acabei de reler o que escrevi. Não pretendo armar-me em polícia da linguagem ou fiscal das relações dos outros, mas a verdade é que isto me eriça um bocado os pêlos, a mim, tripeiro criado no hábito do tu (e não do você) e ensinado a chamar os bois pelos nomes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Para se dar valor às palavras é fundamental "gostar delas".
Gostar delas significa que as olhamos de vários modos e lhes damos a significância dos sentimentos.
Quando estamos vazios de sentir usamos as palavras vazias: "o coiso", "a coisa", a "coisinha", "o tio", o "tás a ver", "bué da fixe".
A outra situação é onde discernimos as nuances dos timbres e aí Pai e Mãe têm a cor que mais nada tem e há mãos que têm tamanho, temperatura e humidade de mais nenhumas.