30.12.05

O Homem do Ano 2005



Este é, na minha modesta opinião, o homem português do ano de 2005.

Assim de cabeça e ao livre correr da pena digamos que: começou por domesticar, com habilidade e promessas de regresso ao poder, aquele horrível polvo que dá pelo nome de aparelho socialista, garantindo assim a sua eleição para secretário-geral. Obteve a maioria absoluta nas legislativas de Fevereiro (se bem que aqui o mérito será também do Santana Lopes). Antes de completar o 1º ano do seu governo já alterou (e bem) a sacrosanta idade de reforma, acabou com (alguns...) privilégios dos titulares de cargos públicos, aumentou os impostos esquecendo as promessas, demitiu um ministro das finanças com boa imagem e arranjou outro mais de acordo com as "grandes obras públicas" tão apanágio das governações socialistas, comprou (e bem!!) guerras com alguns dos lobbies históricos do país (farmácias, sindicatos da funcão pública, juízes, etc...), mudou 3 vezes!!! de coordenador do famoso Plano Tecnológico que parece arrancar em câmara lenta, decidiu (após anos e anos de intermináveis estudos) avançar com a OTA e o TGV tentando convencer os mais incautos da bondade dos projectos e de que tudo se fará quase só com recurso a dinheiros privados (diga-se que ambas as premissas são no mínimo duvidosas...) , conseguiu um bom acordo (apoiado pelo nosso atraso e proverbial especificidade) na última cimeira da UE relativa às verbas comunitárias para o período 2007-2013, resolveu de uma penada (e passando por cima da própria ministra) a questão da fundação da Casa da Música e da colecção Joe Berardo, colocou amigos e correligionários em altos lugares do Estado e empresas participadas, não se deixou ficar atrás de Blair e Bush e fez também ele uma visita surpresa às nossas tropas, atacou com aparente determinação a questão do défice e da fraude fiscal, apresentou um Orçamento de Estado elogiado por vários quadrantes políticos, etc...

Despertou alguns ódios e paixões, mexeu em sectores para os quais se reclamavam reformas há vários anos, não deixou ninguém indiferente. Recuperou um estilo autoritário (a roçar o quero posso e mando) que relembra os anos Cavaco, o que após anos de governação ora mole (Guterres), ora inconsequente (Durão), ora peri-patética (Santana), teve pelo menos o mérito de voltar a dar a sensação de que há alguém ao leme da nau.

Se nos vai ou não levar a bom porto é assunto a avaliar nos próximos anos.

27.12.05

Uma escolha díficil


Como não sou um gajo importante até hoje nunca ninguém me perguntou onde estava no 25 de Abril ou sequer me colocou um daqueles inquéritos que moram invariavelmente na última página das revistas, e em que o respondente se entretem a verter para os leitores os seus amores/ódios e as suas preferências em merdas tão diversas como clube de futebol, prato de culinária, filmes, livros, carros, partido político, gajas/gajos, religião ou sua ausência, boxers ou cueca tipo tanga (diga-se que para mim um gajo só é verdadeiramente adulto quando compreende a pergunta "para que lado é que veste?!!"), hobbies, tabacos e alcóois e outras coisas tais. Tudo com o objectivo de nos permitir conhecer melhor aquele indíviduo, basicamente numa interpretação moderna da filosofia "diz-me com quem andas, dir-te ei quem és".
Poderia aproveitar o quero posso e mando inerente à condição de ter um blog para responder a um inquérito deste tipo. Dir-vos-ia nesse caso relativamente ao conjunto de merdas acima citadas que (respectivamente): fcp, francesinha, cinema paraíso, nome da rosa, qualquer um desde que a diesel e em herança familiar, talvez ps mas dói escrever isto, a minha mulher, ausência de, boxers, livremente à volta da perna, a blogosfera, cerveja e vinho tinto de preferência do douro.
E está dito. Mas acho que a mais sacramental, a mãe de todas as perguntas dos inquéritos pré-fabricados é "qual o dia mais feliz da sua vida?"...
E aqui meus amigos é que a merda atinge mesmo a ventoinha, porque a resposta a esta questão (parafraseando o seleccionador angolano antes do jogo Portugal-Angola em alvalade e com a devida vénia ao Fernando que me contou este dito) é "muito impossível, mas vamos tentar". Pois, pois, podia dizer ai certamente o dia do meu casamento (e era verdade) ou então sim, sim, claro que o dia do nascimento do meu filho (e também era verdade) mas na realidade a percepção que tenho de qualquer um destes dias é de grande felicidade misturada com preocupação (E AGORA?), misturada com confusão de emoções, de gentes, de caras, etc...em suma uma autêntica amálgama de sentidos e sentimentos.
Assim sendo, vejo-me forçado a retroceder a alturas mais simples da vida, alturas em que as sensações também são muitas mas parecem por vezes surgir em regime quase monogâmico. Quando o Porto venceu a taça dos campeões na inesquecível final de Viena em 1987 eu só tinha 11 anos e não tive espaço para mais nada a não ser felicidade. Mas não foi esse o dia mais feliz da minha vida, o que certamente vai desiludir todos aqueles (e são de facto muitos) que me têm na conta de ser um grunho que só vê futebol à frente (e até é verdade).
Se por acaso fosse posto perante esta díficil escolha, teria que dizer que o dia mais feliz da minha vida (pelo menos neste momento em que escrevo à 1.44 da madrugada de terça feira) foi o dia em que com 8 anos e alguns meses e acabado de chegar a casa da escola, entrei no meu quarto e a minha mãe me tinha comprado como prenda todos os 17(?) volumes da 2ª colecção de OS CINCO da Enid Blyton.
Por ser inteiramente merecido e porque nunca é demais dizê-lo: Obrigado MÃE...

25.12.05

Palavra de Cardeal


O Cardeal Patriarca de Lisboa D.José Policarpo deixou-nos ontem a sua mensagem natalícia. Falou de vencer os medos. Falou do papel da Igreja (na sua pobreza e simplicidade) e da sua luta para humanizar a cidade/sociedade. Criticou nas entrelinhas as tentativas de retirar do espaço público os símbolos religiosos.
Eu gosto do Cardeal Policarpo. Acho que é uma pessoa muito inteligente. Gosto da tranquilidade e da humildade que parece ter. Evita cultivar a imagem de Cardeal superior, distante e inacessível, preferindo a normalidade de ser mais um de nós comuns mortais. O facto do homem ser um fumador compulsivo dá-lhe uma condição de "imperfeito", de sujeito a vícios, que só aumenta a dimensão humana da personagem.

Mas o facto de lhe achar uma certa piada não invalida que discorde de algumas das suas opiniões e da forma como a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) escolhe orientar os seus fiéis. Só com muita benevolência se pode ver "pobreza e simplicidade" na ICAR, quer em termos de posses materiais quer relativamente à forma como exercem o poder que possuem nas sociedades actuais, pelo que a tentativa de se passarem por Franciscanos definitivamente não cola. Já a propalada "humanização da cidade" é positiva e cai mais dentro da imagem que tenho da ICAR, mas seria bom que esta se revelasse menos fechada à sua própria humanização nomeadamente em temas como a utilização de preservativos, a relação divorciados/Igreja e mesmo as preferências sexuais das ovelhas do seu rebanho.
O tema dos símbolos vs. espaço público já foi em parte abordado em post anterior, mas começa a saltar à vista que a ICAR começa a aproveitar a inconsequente e estéril polémica dos crucifixos para pintar um quadro de ataque laico por parte da sociedade que, pelo menos para já, não existe.

Vandalismo Natalício


É um gajo decidir, ao passar por um presépio, trocar o menino jesus por uma ovelhinha.

24.12.05

Umberto Eco (2)


"Pertenço a uma geração perdida, e só me reencontro quando assisto acompanhado à solidão dos meus semelhantes."

em O Pêndulo de Foucault - pág. 75

23.12.05

Uma homengem e um aviso...


Guimarães 0- Porto 2
Mais um jogo. Mais uma série de arrancadas perigosas. Mais um golo só ao alcance dos verdadeiramente predestinados.

Ricardo Quaresma é hoje em dia o jogador português em melhor forma. Ponto. Deixou de ser um "brinca na areia" algo inconsequente para se tornar aquilo que os gajos que supostamente inventaram o pontapé na bola chamam de "team player".
Para além dos golos (fabulosos!!) que marca e dum leque de dribles estonteantes, o homem faz assistências sem conta, não tem medo de ir para cima dos adversários arrancando assim faltas e cartões, corre do princípio ao fim e para espanto geral (e mérito daquela triste descupa de treinador que dá pelo nome de Co) ajuda os colegas a defender. Estamos pura e simplesmente na presença de um génio na arte de jogar à bola.
A única alma no mundo, na europa e quiça no país que parece não ver isto tem infelizmente como profissão ser seleccionador nacional. Já sei que o homem é de ideias fixas. Já sei que é mais fácil um paralítico andar, um cego ver, um surdo ouvir e o Cavaco comer de boca fechada que o homem mudar de opinião. Mas PORRA!!
Alguém lhe meta na cabeça, nem que seja preciso uma trepanação à antiga, que nos 20 jogadores de campo que ele vai levar à Alemanha este cigano de ouro tem que caber. Obrigatoriamente. Muito mais que as outras opções que ele tem tomado para os flancos. E atenção que não falo só de Luís Boa Morte. Falo também de Simão Sabrosa. E falo da nova vaca sagrada dos nossos comentadores desportivos (aquele enorme poço de talento, potencial, ego e malabarismos circenses quase sempre inutéis) a super vedeta Cristiano Ronaldo, que diga-se está numa forma perfeitamente assustadora e a viver do nome que leva na camisola.
Termino chamando a atenção da PJ, do Procurador Geral da República e Ministério Público, do Governo, da oposição, do Presidente da República (o actual e o próximo) e demais orgãos de relevo nacional. Já sabemos que há muita gente que advoga a vossa crescente inutilidade e ineficácia. Fica desde já o aviso e a oportunidade de demonstrarem o contrário, ajudando a evitar aquilo que Scolari se prepara para fazer a Ricardo Quaresma (sem outro motivo aparente fora ser jogador do FCP).
Não é só uma gritante injustiça e um grave erro desportivo. É incompetência. É gestão danosa com dolo. É traição à nação futebolística. É CRIME!!! Não merecerá cadeia, mas merece certamente despedimento com justa causa e pontapé no cú.

21.12.05

A pergunta que falta fazer


Há uma questão que ainda não foi posta nem aos candidatos nem aos líderes partidários mascarados de candidatos.
Concordam ou não com a duração do mandato presidencial?
Porque a realidade é que caso Cavaco ganhe em Janeiro de 2006 estará encontrado o nosso Presidente nos próximos 10 anos. Mostra a experiência que o 1º mandato será tendencialmente tranquilo, com boa cooperação com o Governo (que também procurará a reeleição). O perigo de maior "presidencialismo" do regime virá com o 2º mandato. Aí, liberto de preocupações eleitorais, palpita-me que veremos o Prof. Silva agir finalmente de acordo com o seu perfil e óbvia vontade de protagonismo e liderança.
Se o convívio for com um governo PS, voltar-se-ão as teses de forças de bloqueio contra o seu criador e teremos instabilidade política.
Se o convívio for com um governo PSD, estará provavelmente aberto o caminho para um regime tipo francês, com um 1º ministro fadado a ser boneco do ventríloquo Cavaco...

Não terá mais lógica um único mandato presidencial, por exemplo com 7 anos de duração?

20.12.05

Já sei, já sei. Sou um velho do restelo.


"a economia portuguesa voltou a dar sinais de estagnação no mês de Novembro" diz com ar vocês sabem do que estou a falar a apresentadora da rtp ene.

Não sei quando isto começou. Presumo que fosse inevitável. Mas não deixa de ser incrível.
Não somos mais nem portugueses nem europeus. somos
globalização. somos números. somos produtividade e inflação homóloga, somos pib e pidac. somos défice e não superávit, somos indexados à euribor e ao bce. somos taxas de execução e cativação, não passamos de truques contabilísticos. somos a receita extraordinária da privatização e a golden share. somos trabalho ou emprego ou desemprego, somos o rendimento social de inserção e o salário mínimo. somos o psi 20 e o nasdac e os futuros deste. somos ao mesmo tempo o bater das asas da borboleta no outro extremo do mundo e a sua consequência. somos a OMC a UE a NATO a ONU. somos a CPLP, porra. somos siglas. somos os balanços e os balancetes. vivemos naquele espaço muito estreito entre o custo e o benefício, somos a margem de lucro. somos a dívida pública e os seus juros. somos off shores. somos hipotecas e créditos mal parados. somos os empréstimos por telefone e o dá dá dá. somos o spread. somos economês.
Mas o economês não se come...

Querido líder...

Este personagem, que dá pelo nome de Ribeiro e Castro, é líder do CDS-PP. Certamente angustiado por muitos portugueses ainda não identificarem a sua fronha, apesar de todas as suas tentativas de aparecer na fotografia, R e C saiu-se por estes dias com uma espantosa afirmação. Daquelas que dá ideia de ter sido pensada com um espírito do tipo..."ora raios me partam se com esta não chego à primeira página"...Imbuído nesta mentalidade, R e C deslocou-se a um congresso da Juventude Popular (onde foi reeleito como líder dos jotinhas o inenarrável João Almeida) e sentindo todo o apoio/graxismo despudorado que só as juventudes partidárias sabem dar saiu-se com esta tirada bombástica: "o terrorismo é filho da esquerda", inserida num discurso sobre o "grande império mediático da esquerda" e como complemento a uma
tese que identifica a esquerda como a origem dos males do mundo.
Ora eu, que me considero de centro-esquerda, pensava que esta ideia
da esquerda bicho papão era chão que já deu uvas. Se as teses ditas de esquerda quando levadas ao extremo produziram regimes como o Estalinismo e serviram de alavanca político-social a ditadores como Fidel ou o mais recente Chavez, as ideologias ditas de direita também ajudaram a nascer projectos tão válidos como o nazismo alemão ou o fascismo português e espanhol.
Quanto ao "império mediático da esquerda", acho que R e C não está a fazer justiça a jornais como o Expresso e o Independente (no panorama nacional) ou a televisões como a Fox (no plano externo).
Num partido que se gosta de dizer do "arco da governação" e que não perde oportunidades de encher a boca acusando outros de teses extremistas, devia haver um certo cuidado com a linguagem. Compreendo que Ribeiro e Castro esteja chateado por Cavaco Silva não o deixar sequer aproximar-se dele (e consequentemente dos palcos mais mediáticos) apesar do "generoso" apoio dado pelo PP ao candidato dito de direita, mas há limites.
Terá sido a companhia de tantos jovens tão betos e tão beatos, com as suas camisolas aos ombros e as suas roupinhas de marca, que perturbou Ribeiro e Castro? Ou é isto uma amostra de como eles se tratam no parlamento europeu?

17.12.05

Haja pachorra!


Quer tenha uma perspectiva optimista ou pessimista do estado actual do mundo, há temas que qualquer indíviduo bem (in)formado elegeria como preocupações.
A solução para o imbróglio do Iraque, a eterna crise israelo-palestiniana, o cada vez mais provável "choque de civilizações" e as suas diversas causas, as alterações climáticas, a crescente desigualdade entre países ricos e pobres, o terrorismo nas suas diversas formas, a SIDA, a fome, a escassez de água (o nosso bem mais precioso), etc...
Seria assim de esperar que tais temas marcassem não só as agendas políticas como também as mediáticas. Mas não é isso que se vai vendo. Enquanto nós por cá nos entretemos com uma ridícula querela sobre crucifixos e com uma campanha presidencial de efeitos soporíferos, a única super-potência remanescente não faz melhor, como acabo de ler
aqui.
A nova "guerra" que tem ocupado algumas das manchetes foi despoletada pelos cartões de boas festas enviados por George W. e Laura Bush (e pagos pelo Partido Republicano) a 1,4 milhões de apoiantes.
Porquê? ouço-vos perguntar.....pelo simples e aparentemente não despiciendo facto de a terminologia usada: "umas festas cheias de esperança e alegria", não incluir a palavra Natal. Os Bush alegam que tal se deve a pretenderem respeitar todas as fés, mas o sempre crescente lobby da direita conservadora/religiosa considerou isto uma falta grave já que a eliminação da palavra "Christmas" seria um desrespeito a Christ, e vai daí não só atacou o casal presidencial como apelou ao boicote a lojas onde os desejos de Bom Natal se tenham visto substituídos pelo laicismo do termo Boas Festas.
Apesar da total e absoluta irrelevância da questão, sinto-me mesmo assim compelido a vir a terreiro concordar com os Bush!!!!!, atitude para mim chocante e que vou atribuir (i) ao facto de ser partidário da separação Estado/Religião (ii) à compaixão inerente à quadra natalícia.

Tenho a nítida e desagradável sensação que, tanto cá como lá, nos entretemos a discutir o acessório negligenciando o essencial. À beira do precipício continuamos a assobiar e a dar passos em frente.

16.12.05

O pai natal


Não bastava o pobre do homem morar na Lapónia, que como toda a gente sabe faz fronteira com o cú de judas. Não bastava o frio que por lá se deve rapar. Não bastava a porra da barba sempre suja de molho de rabanadas e com pedaços de filhoses. Não bastava ter como única companhia uma mulher obesa e vestida de encarnado como prenda todos os dias do ano. Não bastava ter 8 renas alcóolicas como animais de estimação e ter como único meio de locomoção um treno velho como a putaça sem cobertura ou aquecimento. Não bastava ter que descer pelas chámines como um ladrão e ter que enfiar a merda das prendas em meias a cheirar a mofo do ano anterior. Não. Tudo isto não bastava.
O espírito natalício dos tugas descobriu uma nova e dolorosa forma de castigar o pobre do velho. A moda agora é deixá-lo pendurado nas fachadas dos prédios, preso às varandas e a trepar uma escadinha, sujeito ao frio, à chuva e à neve todo o mês de Dezembro e quiça até aos Reis.
Olha Pai Natal, aceita o meu conselho e manda-os todos à merda...Não há patrocínio da Coca-Cola que valha tanto sofrimento.

Quem não sabe, é como quem não vê...


Outro dia no consultório uma senhora queria que eu dissesse, depois de olhar para a boca do marido, se ele tinha infecções (?). E também que escrevesse uma carta ao advogado (???). Demorei a perceber a situação. Eis, resumidamente, a explicação do insólito:
Porque estavam em processo de divórcio. Porque ele é homossexual. Porque ela tem medo que ele "pegue" alguma infecção à filha de ambos, que tem apenas 5 anos. Porque ela tinha em sua posse análises que mostravam que ele "não tem SIDA", mas mesmo assim queria que eu olhasse. E dissesse...

Estamos em 2005. Temos (há vários anos) uma comissão de luta contra a SIDA. Temos (há vários anos) campanhas de informação nas rádios, tv´s e jornais. Debates e entrevistas. Outdoors em rotundas e posters em autocarros. Temos (há vários anos) a internet ou até enciclopédias onde se pode ler sobre a epidemia em questão. Temos linhas telefónicas de apoio. Temos séries, filmes, provavelmente até novelas que já abordaram este tema.
E ainda temos pessoas que acham que a SIDA se vê pela pinta, se nota à vista desarmada. Se cheira. Pessoas que não fazem a mais pequena ideia de como ela se propaga.
Tanta ignorância e tanta falta de informação são graves. E muito perigosas. Pelo menos tanto como o vírus em si.

15.12.05

Para a Helena


"Creio que nos tornamos aquilo que o nosso pai nos ensinou nos tempos mortos, quando não tinha a preocupação de educar-nos."

Umberto Eco- O Pêndulo de Foucault (pág.49)

Before Sunrise, Before Sunset

Acabo de rever, com a ânsia e a pressa que por vezes parecemos por em
algo que nos dá verdadeiro prazer, os filmes Antes do Amanhecer e
Antes do Anoitecer. De Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke.
Confesso que é para mim algo desesperante não encontrar as palavras para descrever as sensações que este filme me provoca (no fundo, e apesar dos
10 anos de intervalo, o filme é só um...). Faltam-me os verbos e os adjectivos, escasseiam-me as metáforas e demais figuras de estilo. Sobram-me os mas, os porques, os também e demais pronomes. Só me ocorrem lugares demasiado comuns e expressões delicodoces.

Há ideias que para atingirem a plenitude exigem algumas palavras. Não quaisquer umas, mas sim aquelas, as palavras certas, as únicas verdadeiramente apropriadas para aquela ideia específica.
Este filme não vive de efeitos especiais, de grandes cenários ou truques de realização. Vive da cumplicidade entre os actores, dos seus olhares e dos
seus sorrisos, e vive da facilidade com que nos imaginamos ali, naqueles lugares, naqueles momentos e sobretudo naqueles diálogos.
Acima de tudo, o filme vive de palavras. Muitas. Certas. Únicas.

14.12.05

My right foot...






e ainda dizem por aí que o desporto dá saúde...

Raiva

Acordei. Deixei-me estar algum tempo no quentinho. Começei a ouvir o João a querer acordar. E a falar. Pahhh, Deiiii, Ahh, queeeii e todas as outras palavras que só os bébés compreendem. Ri para ele. E ele riu de volta. Como só os bébés sabem rir.

Liga-se o rádio. Ouço nas notícias das 9h a seguinte história:
...está internado em estado de coma no Hospital de Viseu um bébé de 50 dias. Os pais foram detidos pela polícia por suspeita de maus tratos e violação. A comissão de acompanhamento de menores em risco já estava a vigiar esta família, porque a bébé já tinha dado entrada por 4 vezes nas urgências hospitalares, com lesões sugestivas de maus tratos. A comissão de acompanhamento tinha decidido deixar a bébé ao cuidado da avó.
Que morava na mesma casa dos pais...
E agora?
Não sei qual é a pena prevista para estas situações. Mas não estou minimamente interessado em saber. Se tudo for o que parece ser, não conheço em nenhuma língua um adjectivo que esteja sequer perto de descrever alguém capaz de algo assim. Para começar, acho que deviam assegurar-se que estes "pais" nunca mais o possam ser. Ter um filho não pode ser um direito adquirido.
Vasectomia. Histerectomia. Mas mesmo assim é pouco. Pelo menos o pai merece mais. Castração química. Ou cirúrgica. Para que nunca mais possa fazer isto a outro bébé.

Quanto à comissão de acompanhamento...Não sei se há falta de meios. Falta de cuidado. Falta de opções jurídicas. Falta de competência e bom senso.
O que sei é que na dúvida tem que prevalecer sempre a defesa do bem estar do bébé. Ou de uma criança. E mais uma vez não foi isso que aconteceu.

12.12.05

Dúvida Existencial



Porque é que nos hospitais os doentes têm que mostrar o rabo?

Será para transmitir uma ideia de submissão, como nos nossos primos primatas?

Algo angustiado e...




Farto de pensar na porra das prendas de Natal!....

10.12.05

Mundial


Angola, México e Irão.
Quase me dá vontade de esfregar as mãos de contentamento, mas depois vem-me à memória o Mundial de 2002 (os péssimos resultados, os alhos no balneário, o soco ao árbitro, o Oliveira em bicos de pés na foto oficial da comitiva, o inacreditável estágio em Macau, os insultos no regresso, etc...) e controlo este impulso demasiado optimista.
Até porque se passarmos mesmo aos oitavos de final, provavelmente levamos com a Argentina ou a Holanda.

8.12.05

A vedeta

Se há coisa em que nós portugueses somos pródigos, é na facilidade com que elevamos algumas figuras públicas à qualidade de deuses e de orgulho-mor do reino. No futebol então, isso vê-se de forma dramática. Basta ir jogar lá para fora, ter algum talento e ir marcando uns golitos para logo ser cognominado como um Eusébio dos tempos modernos. Se a isto se aliar um corpinho jeitoso e uma carinha laroca, temos ainda as revistas cor-de-rosa a juntarem-se à festa.
A nova coqueluche lusa, Cristiano Ronaldo, é um destes casos. Não digo que não seja um grande jogador e que não tenha potencial para se tornar num fora-de-série, mas até lá chegar ainda terá que pedalar muito. Sim, sim, já sei que é genial, que é imprevisível, que leva o Gabriel Alves às portas do orgasmo, que rebéubéu pardais ao ninho,etc e tal...mas é também muito inconstante, é exageradamente individualista e a avaliar por algumas das opções de jogo que toma dá às vezes a sensação que deve achar que está no circo a entreter a maralha ou na arena com o touro.
Dito isto, admito que deve ser difícil ter 20 anos e ganhar milhões. Deve ser difícil ter as objectivas dos media continuamente apontadas. Deve ser difícil estar no cimo do pedestal e ser um ídolo. Mas há coisas que não se admitem, nem a uma criança mimada. O comportamento de Ronaldo ontem no estádio da luz foi mau de mais para ser verdade. Ele protestou, ele amuou, ele mostrou o dedo (e logo o do meio...) e para culminar em beleza ainda cuspiu (ou melhor, escarrou mesmo) ostensivamente em direcção aos adeptos do Benfica.
No final, e mesmo já de cabeça fria, nem desculpa nem sorry.
Não duvido que o inenarrável Dr. Madaíl e aquele gajo que não se dá ao trabalho de ver jogos ao vivo, que trabalha uns dias por trimestre, que ganha 40 ou 50 mil contos por mês e que ainda tem a lata de se dizer descriminado, hão de vir à liça parafrasear o Gato Fedorento (ah e tal, porque a malta é jovem...) e desculpabilizar o moço, mas a verdade é que temos aqui uma bela vedeta com tiques de diva pós-menopaúsica.

P.S.- para evitar estas situações de endeusamento precoce dos jovens jogadores, seria bom que de uma vez por todas se aceitasse o facto de que Pantera Negra só houve...três: o Eusébio, o Akwa e o deixem jogar o Mantorras.

O pseudo-debate

O assim chamado debate presidencial entre Cavaco e Alegre foi morno. Não deu para esclarecer dúvidas em relação ao sentido de voto, mas deu para acertar contas com horas de sono perdidas.
A melhor análise do referido momento foi, sem dúvida, protagonizada pelo Fernando que o classificou como uma "alegre cavaqueira"...

7.12.05

FCP


São agora 11h40 minutos. O último jogo do Porto na liga dos campeões já acabou há 2 horas. Entretanto, já fui jogar 1 hora de futebol de salão. Assim sendo, já descarregado de alguma energia nervosa/raivosa e pleno em endorfinas circulantes, disponho-me agora a analisar a inacreditável campanha do meu clube nesta competição. Sei que é fácil criticar quando tudo corre mal, mas não tenciono fugir ao lugar comum de atribuir culpas. Essencialmente, porque há quem as mereça. Comecemos como é da praxe, pelo princípio, que neste caso é sempre o treinador. Sendo holandês, levou logo sem mais delongas o rótulo de atacante e de jogar para o espectáculo, fama essa que acaba de comprovar pela forma espectacular como dirigiu a equipa para fora da europa. Para não vos maçar muito, vou apresentar em forma de lista os principais "pecados" deste Sr. Co:
- correr com o Jorge Costa (líder do balneário e principal carregador da mística do clube). Transformar um pseudo-avançado (Postiga) incapaz de marcar golos, em pseudo-nrº 10 incapaz de os criar, em pseudo-elemento do plantel.
- indicar, como contratação da sua inteira responsabilidade, um turco (que dizem ser defesa direito) com ar de vendedor de tapetes e com habilidade correspondente, que agora nem convocado é.
- gerir o plantel como um doente bipolar: ora jogas, ora estás no banco, ora na bancada, ora na equipa b. Tudo sem relação directa com a qualidade de jogo evidenciada. E sem nenhuma explicação.
- encarar cada equipa titular como uma nova experiência, só sendo coerente na incoerência que demonstra.
- fazer substituições que nem um cego (sem óculos, nem bengala, nem cão guia) faria.

- ....
Mas afinal, o que se poderia esperar dum treinador em final de carreira, sem nenhum título ganho e sem nenhuma experiência prévia fora do seu país?
Alguém sabe? Talvez o Jorge Nuno Pinto da Costa possa responder, caso decida voltar a dedicar-se ao clube num eventual tempo livre que lhe sobre da sua tempestuosa relação amorosa...

Não liguem a esta última tirada de gosto duvidoso, são só os ciúmes a falar...

4.12.05

Gula

Não lhe vou chamar pecado porque sou ateu, mas acabo de cometer o excesso da gula.
Depois de ter literalmente mamado 2 pratadas duma feijoada poderosa às 3 da tarde (obrigado Claúdia...), de ter ficado enjoado, de ter tomado uma água das pedras e passado o resto da tarde a arrotar chouriça de sangue, eis que chego a casa dos meus pais e para entrada do jantar (que eu já tinha decidido não comer) há...camarão!!!
No momento em que escrevo acabo de tomar 2 anti-ácidos para tentar de alguma forma arranjar espaço no estômago para o pobre do marisco.

Crucifixos

Há por aí grande reboliço porque o Governo teria dado ordem para retirar os crucifixos que ainda habitam as paredes de algumas escolas públicas portuguesas.
Acho esta controvérsia totalmente injustificada pelas razões que passo a expôr:

1-a notícia está mal contada, já que aquilo que o Ministério da Educação decretou foi retirar o referido objecto em caso de haver queixas (da escola, dos pais, dos agrupamentos...).
2-o estado é laico e deve comportar-se como tal. O reconhecimento da importância da nossa herança judaico-cristâ e do papel da Igreja na sociedade já justifica a existência de uma Concordata, e não depende de deixar esquecida numa parede simbologia religiosa.
3-em termos práticos, duvido que algum aluno dê grande importância à presença ou ausência de um crucifixo na sala de aula. Se o Ministério quissesse retirar um eventual poster dos D'ZRT, aí sim, caia o Carmo e a Trindade...

1.12.05

Paulo Morais

Há gente que anda ocupada a organizar ceias de homenagem a Paulo Morais (PM), ex nrº 2 de Rui Rio, que se destacou nos últimos tempos por ter denunciado a corrupção que grassa nas Câmaras Municipais deste país. No último destes jantares, PM entreteve-se a desfazer o estado actual da democracia lusa classificando o regime como "decrépito". Ora, isto merece algumas considerações:
1- é, no mínimo, curioso que PM só tenha descoberto a corrupção e a decrepitude do regime depois de lhe terem tirado a boca da tetina dos dinheiros públicos.
2- enquanto vereador e nas várias funções que exerceu, PM foi uma nulidade absoluta, não deixando nem obra nem saudade.
3- aquilo que verdadeiramente ficou na memória foi a peregrina sugestão de PM para que os arrumadores fossem obrigados a usar um crachat na roupa listando as suas doenças (estilo a estrela de David dos judeus).

Posto isto, impõe-se a pergunta. Homenageado? Mas porque carga de água?
Se não fosse tão insignificante, seria grave. Assim, é só ridículo.

Vaticano

CONTEXTO:
O Vaticano retirou o convite que tinha feito a Daniela Mercury para cantar no espectáculo de Natal. Porque ela é um dos rostos de uma campanha no Brasil a promover o uso de camisinha (como se diz por lá).

FACTOS:
-O Vaticano tem hoje em dia menos influência que antigamente, mas continua a marcar a vida e a conduta de muita gente, especialmente nos países ditos de 3º mundo.
-O preservativo, mesmo não sendo 100% eficaz, é uma das formas mais eficazes de combater a propagação do vírus HIV (entre outros).
-Já morreram milhões de pessoas com SIDA e cada dia que passa milhares de adultos e crianças são infectados.

COMENTÁRIO:
Continuar a demonizar o uso do preservativo e a advogar como única política de saúde primária a promoção da abstinência sexual pré-casamento e da fidelidade pós, pode funcionar bem nos corredores da Cúria Romana mas na vida real é um rotundo falhanço. O latim gasto em todos os Concílios, conferências, documentos e bulas papais saídas do Vaticano não altera a realidade. E o mundo não é só aquilo que se vê da varanda da Basílica de S.Pedro.
Com a intolerância e superioridade moral praticadas, o Vaticano está a abdicar do papel fundamental que poderia ter para ajudar a evitar a disseminação desta epidemia. Convém não ter medo das palavras. Isto é grave. É irresponsável. É quase criminoso.