27.12.05

Uma escolha díficil


Como não sou um gajo importante até hoje nunca ninguém me perguntou onde estava no 25 de Abril ou sequer me colocou um daqueles inquéritos que moram invariavelmente na última página das revistas, e em que o respondente se entretem a verter para os leitores os seus amores/ódios e as suas preferências em merdas tão diversas como clube de futebol, prato de culinária, filmes, livros, carros, partido político, gajas/gajos, religião ou sua ausência, boxers ou cueca tipo tanga (diga-se que para mim um gajo só é verdadeiramente adulto quando compreende a pergunta "para que lado é que veste?!!"), hobbies, tabacos e alcóois e outras coisas tais. Tudo com o objectivo de nos permitir conhecer melhor aquele indíviduo, basicamente numa interpretação moderna da filosofia "diz-me com quem andas, dir-te ei quem és".
Poderia aproveitar o quero posso e mando inerente à condição de ter um blog para responder a um inquérito deste tipo. Dir-vos-ia nesse caso relativamente ao conjunto de merdas acima citadas que (respectivamente): fcp, francesinha, cinema paraíso, nome da rosa, qualquer um desde que a diesel e em herança familiar, talvez ps mas dói escrever isto, a minha mulher, ausência de, boxers, livremente à volta da perna, a blogosfera, cerveja e vinho tinto de preferência do douro.
E está dito. Mas acho que a mais sacramental, a mãe de todas as perguntas dos inquéritos pré-fabricados é "qual o dia mais feliz da sua vida?"...
E aqui meus amigos é que a merda atinge mesmo a ventoinha, porque a resposta a esta questão (parafraseando o seleccionador angolano antes do jogo Portugal-Angola em alvalade e com a devida vénia ao Fernando que me contou este dito) é "muito impossível, mas vamos tentar". Pois, pois, podia dizer ai certamente o dia do meu casamento (e era verdade) ou então sim, sim, claro que o dia do nascimento do meu filho (e também era verdade) mas na realidade a percepção que tenho de qualquer um destes dias é de grande felicidade misturada com preocupação (E AGORA?), misturada com confusão de emoções, de gentes, de caras, etc...em suma uma autêntica amálgama de sentidos e sentimentos.
Assim sendo, vejo-me forçado a retroceder a alturas mais simples da vida, alturas em que as sensações também são muitas mas parecem por vezes surgir em regime quase monogâmico. Quando o Porto venceu a taça dos campeões na inesquecível final de Viena em 1987 eu só tinha 11 anos e não tive espaço para mais nada a não ser felicidade. Mas não foi esse o dia mais feliz da minha vida, o que certamente vai desiludir todos aqueles (e são de facto muitos) que me têm na conta de ser um grunho que só vê futebol à frente (e até é verdade).
Se por acaso fosse posto perante esta díficil escolha, teria que dizer que o dia mais feliz da minha vida (pelo menos neste momento em que escrevo à 1.44 da madrugada de terça feira) foi o dia em que com 8 anos e alguns meses e acabado de chegar a casa da escola, entrei no meu quarto e a minha mãe me tinha comprado como prenda todos os 17(?) volumes da 2ª colecção de OS CINCO da Enid Blyton.
Por ser inteiramente merecido e porque nunca é demais dizê-lo: Obrigado MÃE...

3 comentários:

Anónimo disse...

É de facto a "importância das coisas que não têm importância nenhuma".
De facto o que nos marca são acidentes que nos encontam naquele "certo comprimento de onda" na hora certa.
Se forem coisas importantes essa sintonia é uma dádiva, se forem deslumbres podem ser nocivas, se forem inócuas são sorrisos do coração que nos tornam optimistas.
Quem melhor que uma mãe para nos decifrar o comprimento de onda aos 11 anos????

Anónimo disse...

E tu és a dádiva sem limites que nos foi dada, a mim e ao teu pai. BEIJOS!... Que o simples gesto aos teus 11 anos...se transforme em felicidade e que contagie quem te rodeia...
Teus pais que te amam

Anónimo disse...

Aqui eu ponho 6 maços de lenços de papel, altamente absorventes, para salvar os vizinhos de baixo de grave inundação.