20.12.05

Já sei, já sei. Sou um velho do restelo.


"a economia portuguesa voltou a dar sinais de estagnação no mês de Novembro" diz com ar vocês sabem do que estou a falar a apresentadora da rtp ene.

Não sei quando isto começou. Presumo que fosse inevitável. Mas não deixa de ser incrível.
Não somos mais nem portugueses nem europeus. somos
globalização. somos números. somos produtividade e inflação homóloga, somos pib e pidac. somos défice e não superávit, somos indexados à euribor e ao bce. somos taxas de execução e cativação, não passamos de truques contabilísticos. somos a receita extraordinária da privatização e a golden share. somos trabalho ou emprego ou desemprego, somos o rendimento social de inserção e o salário mínimo. somos o psi 20 e o nasdac e os futuros deste. somos ao mesmo tempo o bater das asas da borboleta no outro extremo do mundo e a sua consequência. somos a OMC a UE a NATO a ONU. somos a CPLP, porra. somos siglas. somos os balanços e os balancetes. vivemos naquele espaço muito estreito entre o custo e o benefício, somos a margem de lucro. somos a dívida pública e os seus juros. somos off shores. somos hipotecas e créditos mal parados. somos os empréstimos por telefone e o dá dá dá. somos o spread. somos economês.
Mas o economês não se come...

2 comentários:

Anónimo disse...

Nesta linha de reflexões, respigo, de um Suplemento DIAD do Público, a seguinte anedota:
Dois ocupantes de um balão que, por causa da inesperada intensidade do vento, se desvia do seu caminho, voando para paragens desconhecidas, avistando alguém a passar em terra, fazem descer o balão para se informarem. Perguntam ao passante onde estão e este responde que se encontram dentro de um balão e segue o seu caminho. Perante isto, um dos balonista diz para o outro:"Aquele homem é economista". Como sabes? indaga o outro. Porque a resposta está correctíssima, mas é completamente inútil.
Poderíamos talvez aplicar o raciocínio a outro cargo da vida nacional, do qual tanto se tem falado ultimamente.

Anónimo disse...

"se um homem misturar absinto com a realidade obtém uma realidade melhor.
... podem crer, excelentíssimos ouvintes, que vos falo, não por via da erudição, que sem dúvida alguma possuo em grandes quantidades; mas não, não é por aí que a minha voz vem.
... a minha voz vem da experiência, caros concidadãos!
... é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.
... mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior.
... muito cedo tomei as opções essenciais que há a tomar na vida.
... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto.
... mais um copo de absinto, caro comendador. E sem um único pingo de realidade, por favor"