25.12.05

Palavra de Cardeal


O Cardeal Patriarca de Lisboa D.José Policarpo deixou-nos ontem a sua mensagem natalícia. Falou de vencer os medos. Falou do papel da Igreja (na sua pobreza e simplicidade) e da sua luta para humanizar a cidade/sociedade. Criticou nas entrelinhas as tentativas de retirar do espaço público os símbolos religiosos.
Eu gosto do Cardeal Policarpo. Acho que é uma pessoa muito inteligente. Gosto da tranquilidade e da humildade que parece ter. Evita cultivar a imagem de Cardeal superior, distante e inacessível, preferindo a normalidade de ser mais um de nós comuns mortais. O facto do homem ser um fumador compulsivo dá-lhe uma condição de "imperfeito", de sujeito a vícios, que só aumenta a dimensão humana da personagem.

Mas o facto de lhe achar uma certa piada não invalida que discorde de algumas das suas opiniões e da forma como a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) escolhe orientar os seus fiéis. Só com muita benevolência se pode ver "pobreza e simplicidade" na ICAR, quer em termos de posses materiais quer relativamente à forma como exercem o poder que possuem nas sociedades actuais, pelo que a tentativa de se passarem por Franciscanos definitivamente não cola. Já a propalada "humanização da cidade" é positiva e cai mais dentro da imagem que tenho da ICAR, mas seria bom que esta se revelasse menos fechada à sua própria humanização nomeadamente em temas como a utilização de preservativos, a relação divorciados/Igreja e mesmo as preferências sexuais das ovelhas do seu rebanho.
O tema dos símbolos vs. espaço público já foi em parte abordado em post anterior, mas começa a saltar à vista que a ICAR começa a aproveitar a inconsequente e estéril polémica dos crucifixos para pintar um quadro de ataque laico por parte da sociedade que, pelo menos para já, não existe.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu também simpatizo com o homem, que me parece culto e falar com linguagem humana, sem os arquétipos de interlucotor previlegiado com o divino.
Mas... ele é quem é. E a Igreja não fala essa linguagem.
Há décadas que a formação dos padres está desactualizada e não é possível a sua actualização com cursos de formação acelerados, quando se bebeu em tenra idade uma filosofia mística assente em pressupostos já não presentes.
O deus papão morreu há mais de 20 anos, o inferno apagou também por essa altura, a compra do céu com missas e mortificações ... já foi e a salvação pelo arrependimento à boca das urnas está fora de contexto.!

Então o que fica???
Fica a estrutura e a sua inércia e o cântico da Solidariedade.
A estrutura detém ainda o monopólio dos rituais (Nascimento intervenção (comunhão), casamento e morte) mas o espaço de reunião dos fregueses fora destes eventos perdeu funcionalidade e os Cafés, as Associações Recreativas, mais perto do ser das populações, são mais concorridos.
Quanto à solidariedade os Assistentes sociais e Psicólogos deveriam ser mais capazes de congregar vontades e destinos.

Aqui eu declaro:
No futuro o 2º nucleo social será a Junta de Freguesia. Os seus funcionários serão técnicos com formação superior que façam a gestão dos dinheiros da solidariedade social.
A crença na vida eterna será gerida neste espaço, sem autonomia económica e nos respeito das sensibilidades dos fregueses e os templos existentes serão, como o Panteon, dedicados a todos os deuses.
Discutir fora deste contexto é perder tempo.
Disse.