17.12.05

Haja pachorra!


Quer tenha uma perspectiva optimista ou pessimista do estado actual do mundo, há temas que qualquer indíviduo bem (in)formado elegeria como preocupações.
A solução para o imbróglio do Iraque, a eterna crise israelo-palestiniana, o cada vez mais provável "choque de civilizações" e as suas diversas causas, as alterações climáticas, a crescente desigualdade entre países ricos e pobres, o terrorismo nas suas diversas formas, a SIDA, a fome, a escassez de água (o nosso bem mais precioso), etc...
Seria assim de esperar que tais temas marcassem não só as agendas políticas como também as mediáticas. Mas não é isso que se vai vendo. Enquanto nós por cá nos entretemos com uma ridícula querela sobre crucifixos e com uma campanha presidencial de efeitos soporíferos, a única super-potência remanescente não faz melhor, como acabo de ler
aqui.
A nova "guerra" que tem ocupado algumas das manchetes foi despoletada pelos cartões de boas festas enviados por George W. e Laura Bush (e pagos pelo Partido Republicano) a 1,4 milhões de apoiantes.
Porquê? ouço-vos perguntar.....pelo simples e aparentemente não despiciendo facto de a terminologia usada: "umas festas cheias de esperança e alegria", não incluir a palavra Natal. Os Bush alegam que tal se deve a pretenderem respeitar todas as fés, mas o sempre crescente lobby da direita conservadora/religiosa considerou isto uma falta grave já que a eliminação da palavra "Christmas" seria um desrespeito a Christ, e vai daí não só atacou o casal presidencial como apelou ao boicote a lojas onde os desejos de Bom Natal se tenham visto substituídos pelo laicismo do termo Boas Festas.
Apesar da total e absoluta irrelevância da questão, sinto-me mesmo assim compelido a vir a terreiro concordar com os Bush!!!!!, atitude para mim chocante e que vou atribuir (i) ao facto de ser partidário da separação Estado/Religião (ii) à compaixão inerente à quadra natalícia.

Tenho a nítida e desagradável sensação que, tanto cá como lá, nos entretemos a discutir o acessório negligenciando o essencial. À beira do precipício continuamos a assobiar e a dar passos em frente.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não consigo ver o grande problema do uso da palavra Christmas. Cheira-me mais a uma manobra do politicamente correcto do que a outra coisa.Então agora os desgraçados dos americanos não podem dizer a palavra Natal sem se desculparem perante as outras religiões? O facto é que o Natal é uma festa cristã que por acaso até celebra o nascimento de Cristo ( será por isso que lhe chamaram Christmas? Dahhh)
Além disso, o Bush a não querer ofender/ostracizar outras religiões? Deves estar a brincar!

wolverine disse...

Para começo de conversa, relembro-te que acho o assunto irrelevante.
Não acho que os Bush tenham sequer eliminado propositadamente a palavra christmas,pelo que a justificação posterior parece-me nascer apenas como reacção aos acontecimentos (não lembraria a ninguém que um simples postal de boas festas desse tanta polémica). Num país em que todos os grandes discursos políticos acabam com o famoso "God bless", não me parece que tenham grandes pruridos em relação ao "politicamente correcto"...
Quanto a concordar com eles, acho normal que desejem boas festas aos seus apoiantes (contribuintes do partido...) e que se tentem defender deste ataque histérico, com o qual certamente não contavam.
Onde é que me viste dizer que via problemas no uso da palavra Natal?

Anónimo disse...

O problema é a globalização.
Eu quero lá saber de um pequeno erro cometido em qualquer pequeno lugar do mundo. Eu quero lá saber de uma opinião avessa no deserto. Mas de facto não é irrelevante a roupa interior do Presidente dos USA. Se ao homem lhe desse para publicitar que usa boxers "made in Irak" ou "made in Niger" de certeza que isso seria comentado a nível mundial, e teria inevitavelmente consequências mais não fosse na tinta que tal gastaria.
De facto é preocupante.
Hoje o noticiário falou de um autocarro que teve um acidente na Africa do Sul e eu fiquei a pensar em quantos acidentes com transportes públicos há por dia neste Mundo e o porquê de vir hoje aquele. Amanhã irá vir notícia do Burundi onde uma velha de 99 anos morreu debaixo de um telheiro e de um qualquer rio que transbordou e eu ouço e fico com assunto para as próximas horas e esqueço. Depois de amanhã vai ser uma qualquer agressão na Sibéria ou um cataclismo nos Alpes.
É um doce entretenimento esta Globalização. Há sempre novidade e com dores longinquas para a gente dizer "coitadinho do crocodilo".
Os Telejornais são as Telenovelas da classe média, porque os porquês das coisas que de facto nos tocam a sério, essas só vêm de vez em quando nos livros e "a posteriori" com distância segura a não deixar os intervenientes em embaraço.
Alguém fala dos jogos de influência de quem manobra o poder. Atenção que eu não estou a falar de políticos. Falo de quem os manobra, falo de quem influencia, de quem tem acesso aos meios de comunicação.
Enquanto escrevo ouço falar do Marco Paulo, Blá!!!! Nossa Senhora nos dê a mão.... e da sua repetição à exaustão, dos 13 de Maio, das Missas, das bênçãos que estão em todo o lado, nas inaugurações de obra pública, nos fins de curso, etc e tal... Viva Portugal!!!
Quero Ir para Marte!!!