7.11.05

Interrupção Voluntária da Gravidez...


Para início de conversa, fica desde já dito que sou pró-despenalização da IVG até às 10 semanas e que politicamente falando acho forçoso que haja um novo referendo (de preferência com participação que lhe dê valor legal), para conferir maior estabilidade à decisão tomada, qualquer que seja o seu sentido.

Mais do que os conteúdos, o grande erro de qualquer discussão sobre o aborto é a forma e o tom usados. "És a favor ou és contra", "és por mim ou és contra mim", como se fosse tudo uma questão de sim ou sopas ou de boi ou vaca. Centrar o debate nestes extremos leva ao ridículo de vermos de um lado pessoas a clamar assassinío e do outro argumentos tipo aqui mando eu estampado nas barrigas (como se um feto/bébé fosse antes de tudo o resto uma questão de propriedade...).
De ambos os lados das trincheiras desta verdadeira guerra há questóes que apetece ver respondidas... Acho que é consensual que a IVG deve constituir sempre uma medida de recurso, de fim da linha e nunca um método contraceptivo. Assim sendo, que espécie de idiota é necessário ser-se para se dizer simplesmente que se é a favor do aborto? Será pouco ou muito significativo que sistematicamente o tema seja assim colocado, esquecendo o termo despenalização? Será que não se pode ser pessoalmente contra a realização de um aborto mas aceitar que outras/os não sejam castigados se tomarem essa opção? Podemos ter uma visão pragmática da coisa e achar que se uma mulher quer mesmo abortar (por variadas razões...) o vai acabar por fazer e que é preferível que o faça num local com condições higio-médico-sanitárias (seja público ou privado) que num qualquer vão de escada? Ou é melhor dizer que se o fizeram (o feto) agora lidem com as consequências? Porque é que só se discute a IVG cirúrgica/hospitalar e se fecha os olhos à realidade das abortadeiras clandestinas, das pílulas do dia seguinte e dos medicamentos que provocam o chamado aborto químico, à venda em qualquer farmácia? Porque é que há tanta gente convencida que se pode impor o que quer que seja numa matéria como esta? Porque é que tudo muda se dermos o pequeno passo de Elvas a Badajoz?
Acho que devemos evoluir no sentido de ter regras claras (de acordo com o que se passa no resto da Europa) e fundamentalmente assegurar que elas são cumpridas.

Quanto ao tema infinitamente mais perigoso do quando começa a vida? acho que acaba por contaminar um bocado a discussão da IVG, porque por mais voltas que se possam dar a decisão será sempre individual ou do casal. Acabamos por misturar Ciência e Fé, esquecendo que provavelmente não há uma só resposta certa e absoluta.
Dizer-se que a vida começa no momento da fecundação ou às 10 semanas não altera em nada as estatísticas de IVG (legais ou ilegais, nacionais ou além fronteiras) a que continuamos a fechar os olhos.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Vera Drake", filme do realizador inglês Mike Leigh, fala de forma crua e realista sobre este mesmo assunto... recomendo mesmo!

"Should i put the kettle on!"