Vários factos e uma grande lição

(Artigo de Alexandra Lucas Coelho, publicado na edição do Público de terça-feira, 8 de Novembro)

Os factos:
1- no dia 3 de Novembro, em mais uma intervenção do Exército israelita no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, foi morto um palestiniano chamado Ahmed Al Khatib.
2- o Exército israelita disse em comunicado que "durante a actividade na área, palestinianos armados abriram fogo de vários pontos". Julgando ver um homem armado a 130 metros de distância, os soldados dispararam contra Ahmed, atingindo-o na cabeça e no abdómen. Ao chegarem junto ao corpo descobriram que a arma era uma pistola de plástico, muito semelhante a uma arma real. O Exército fala ainda de um "jovem palestiniano ferido", diz "lamentar o incidente" e não refere nome, idade ou gravidade do ferimento (na altura do comunicado, Ahmed estava em coma)
3- Ahmed tinha 12 anos. Segundo a sua família tinha ido à loja comprar doces e não possuia nenhuma pistola de plástico. Foi levado inicialmente para o hospital de Jenin e depois transferido para Haifa, com a mediação da autoridade palestiniana e do Exército israelita. No sábado foi-lhe decretada a morte cerebral.
4- A família directa de Ahmed (os pais e 5 irmãos) são palestinianos dos territórios ocupados de Jenin. O tio é cidadão árabe israelita.

A lição- uma enfermeira perguntou à família se queria doar os orgãos de Ahmed. A resposta foi sim, porque queriam ajudar a salvar outras vidas. Neste caso 6 vidas israelitas. O coração de Ahmed bate agora no peito de uma menina drusa israelita, Samah Gabdan, também de 12 anos. O fígado foi repartido entre um bébé de 6 meses e uma mulher de 56 anos, os pulmões divididos entre um menino de 5 anos e uma menina de 4. Os seus rins foram para um miúdo de 5 anos.
Segundo o tio de Ahmed esta doação "era uma forma de sentirmos que ele está vivo nestas crianças" e "uma mensagem de paz".