amsadixit

1.3.07

Fim.


Há já algum tempo que tenho vindo a negligenciar este blog. Passado o entusiasmo inicial, satisfeito o ego com a visão narcisística dos próprios escritos, com as postagens sobre tudo e sobre nada, muitas vezes a horas pouco compatíveis para um marido, pai de família e micro-nano empresário que se vai esforçando por ser responsável, confesso que me sinto algo saturado. Os dias vão e vêm sem que sinta vontade ou inspiração para escrever. Chego inclusivamente a passar 24 horas seguidas sem sequer ligar a internet, o que aqui há uns meses seria mais que suficiente para despertar os suores frios e os tremores típicos dum qualquer síndrome de abstinência.
Para além do exposto, a verdade já conhecida pelos visitantes regulares aqui do tasco (os 2 ou 3 que estoicamente foram resistindo) é que há mais de 1 ano que mantenho uma vida dupla alimentando também outro blog, o que resultou numa rotina por demais fastidiosa. Escrever, muitas vezes incluindo fotos e links, postar, ler, voltar atrás para corrigir eventuais gralhas, voltar a ler, copiar, postar novamente mas agora no outro blog.
Tudo isto porque custa de facto um pouco o criador matar a sua criação. Ou talvez porque achei que o outro blog (sendo em grupo) podia inibir os ilustres comentadores residentes do amsa dixit, ber latinus e folha seca, de continuarem a usar as caixas de comentários para polemizar comigo, um com o outro ou até mesmo para falarem de outro tema qualquer sem relação possível ou imaginária com o post original. No fundo razões de lana caprina, pífias justificações para adiar o inevitável. Mas já chega. Por mais que me custe, não voltarei a postar aqui no amsa dixit.
Para já vou deixá-lo assim, comatoso, sem actividade mais ou menos cerebral. Falta-me ainda, por ego e por vaidade, a coragem de desligar a máquina e eutanasiar o doente. Assim posso ainda vir cá visitá-lo, passear talvez pelos arquivos, saciar a fome à saudade, o mais português dos sentimentos.
Foi um prazer.
amsa.
P.S.- a saga continua, para já, aqui (sob o alter-ego wolverine). Fica o convite feito.

11.2.07

9.2.07

Adivinhar o futuro.

Há quem use búzios, ou cartas, ou folhas de chá no fundo duma chávena. Há quem procure ler as estrelas, os alinhamentos cósmicos, ou as palmas das mãos. Também há adivinhos de bolas de cristal, consultores de espíritos, invocadores de oguns, xóguns e outros que tais. Tudo isto para responder a uma das nossas maiores angústias enquanto seres humanos: o futuro.
Saber de antemão os números do totoloto acarreta um aumento significativo da probabilidade de acertar. Conhecer o resultado final de um jogo de futebol pode fazer maravilhas para diminuir o stress e evitar o recurso aos mais coloridos dos vocábulos do dicionário. Divisar logo pela manhã que um dado dia irá incluir sexo permite escolher a melhor cueca, deixando de lado os slips desbotados pelo selo e com o elástico já gasto, e as meias com o buraco no dedão. O mesmo tipo de prevenção que um tipo pode exercer se souber de fonte segura que mais logo pela tardinha vai parar ao hospital.
Por outro lado, e como é comum num mundo cada vez mais falho de crenças e de fé, há também aqueles que por notória falta de imaginação e de criatividade pura e simplesmente não acreditam em nada, muito menos na possibilidade de prever o futuro. Vivem o momento, satisfeitos na tranquilidade que dá aceitar as coisas que não podem controlar. Usam quanto muito uma boa dose de bom senso (o que me parece algo pleonástico mas adiante) e um conhecimento mais ou menos pormenorizado dos acontecimentos passados como forma de adivinhar o porvenir. Tipos desta laia, apesar de se gabarem do seu estatuto de não crédulos, têm uma tal confiança nas suas capacidades dedutivas que frequentemente chegam a conclusões tão inabaláveis que numa demonstração testosterónica de fanfarronice e estupidez natural proclamam alto e bom som ser capazes de apostar um testículo nelas.
Eu por exemplo não preciso de ser a amiga Maya para apostar um dos meus referidos orgãos em que daqui a 7 anos Cavaco continuará a ser PR e o outro para alvitrar que pela mesma altura ainda estaremos a divergir da Europa nas estatísticas do economês.
Finalmente há ainda aqueles que dizem que o futuro a Deus pertence, mas não se eximem de tentar através de rezas e promessas condicionar o supremo arbítrio do divino.Aqui chegado, assalta-me a recorrente sensação de que como é costume voltei a cometer o pecado da divagação, a misturar alhos com bugalhos, enfim a perder-me um pouco nesta sensação de formigueiro libertador que me dá na ponta dos dedos quando estou entretido a escrevinhar alguma coisa.
Neste caso, o factor desencadeante foi este: duvido que qualquer bruxo, adivinho, crente religioso ou mesmo mero analista especialista de informática e estatística pudesse prever o sucesso que isto ia ter.

8.2.07

Ao ataque


Mário Soares apresentou o livro 'Vítimas de Salazar' e não deixou de aludir ao concurso da RTP.
"O fascismo assassinou, deportou, censurou e exerceu toda a espécie de violências"

Um grande português, combatente primeiro anti-fascista e depois anti-comunista, pilar essencial do PREC e da transição suave para a democracia, impulsionador da descolonização, primeiro-ministro, motor da adesão de Portugal à CEE, presidente da república, homem das mil viagens, das presidências abertas e das forças de bloqueios, gerador de ódios e paixões, teimoso, culto, vaidoso, agnóstico, excessivo nos gestos e atitudes, bonacheirão, ligado à maçonaria, à CIA, e a histórias duvidosas como os diamantes de Angola e as confusões de Macau, enfim, uma personagem que não deixa ninguém indiferente e que marcou para sempre o século XX português, aqui num pequeno contributo para evitar que um concurso de génese populista e aparentemente fácil de ser manipulado consiga de algum modo diluir o passado.

4.2.07

Finalmente alguém descobre a solução, 9 anos depois do 1º referendo e já na campanha para o 2º...

Acabo de ouvir na rádio o excelso Dr. Alexandre Relvas, o estratega de campanhas a quem Cavaco Silva já chamou o seu Mourinho, defender uma posição sobre o referendo à despenalização ao aborto que chega a parecer inspirada na sátira do gato fedorento ao Professor Marcelo. Segundo o Dr. Relvas a solução seria algo deste estilo:
Caríssimas portuguesas e portugueses, votem não numa demonstração inequívoca de respeito pela vida humana. Mas caso se vejam necessitados, por capricho, falta de dinheiro, tempo ou espaço para mais um miúdo lá em casa, a realizar um aborto em qualquer altura da vossa gravidez saibam que soluções não faltam. Caso tenham posses sugiro o costumeiro passeio a uma capital europeia do vosso agrado, onde podem sempre fazer umas comprinhas nas lojecas da moda. Caso sejam só remediados continuam a ter a opção de resolver o problemazito já aqui ao lado na amiga Espanha, podendo até aproveitar para comprar caramelos e atestar o carro. Caso não tenham onde cair mortas resta-vos ainda e sempre o ancestral recurso a um qualquer vão de escada infecto e badalhoco, com a suprema vantagem de não correrem o risco de ser presas ou perseguidas pela polícia no caso de terem complicações graves que vos obriguem a ir parar ao hospital.

Enfim,
é crime? sim.
pode-se fazer a qualquer altura da gravidez desde que não seja num estabelecimento de saúde legalizado? sim.
o que é que acontece a quem o faz? nada.

1.2.07

Haja paciência...

À conversa com empresários chineses, o ministro da Economia Manuel Pinho apontou a nossa baixa média salarial comparativamente aos restantes países da UE como uma das razões para justificar o sino-investimento cá no burgo.
Ora, como a declaração do ministro é uma mera constatação do óbvio, o coro de protestos ao melhor estilo de virgens ofendidas que uniu partidos da oposição e sindicatos só se compreende à luz de alguma demagogia e aproveitamento político. Isto não invalida que comece a ser de bradar aos céus a falta de tacto do Dr. Pinho, que fiel ao seu historial de só ser notícia por maus motivos (a declaração que "a crise acabou", o caos com a ERSE e respectivas audições parlamentares, etc...) vem agora criar nova confusão ao melhor estilo cada cavadela cada minhoca. Ainda para mais num governo que conseguiu há poucos meses um acordo histórico entre todos os parceiros sociais para uma melhoria plurianual significativa do salário mínimo.
Será que como a oposição a Sócrates é pura e simplesmente inexistente alguns ministros se sentem estranhamente compelidos a agitar as águas?

12.1.07

O Luisão

O Luisão foi apanhado de madrugada a conduzir com excesso de álcool no sangue (coisita pouca, afinal eram só 1,33g/l).
O Luisão deu depois uma conferência de imprensa em defesa do Luisão.
O Luisão disse que o que aconteceu ao Luisão podia acontecer a qualquer um.
O Luisão disse que o Luisão estava jantando com a esposa e um casal amigo e que bebeu vinho, sendo que o Luisão disse que o Luisão gosta de vinho.

Ora, o amsa até acha que o Luisão tem razão e que isto podia de facto acontecer a qualquer um (desde que esse qualquer um tenha carta, carro, beba muito para além da conta e depois decida conduzir).
O amsa até compreende o Luisão e o amsa julga inclusivamente que tal como no caso do Nuno Assis isto tudo não passa no fundo de uma vergonhosa perseguição do governo ao Benfica, orquestrada certamente pelo Pinto da Costa para desviar os olhares da Catarina e do apito.
O amsa chega até ao ponto de achar que o senhor Juiz, numa atitude de coragem com risco para a saúde do senhor Juiz, se demarcou desta horrível cabala decidindo que o Luisão terá de cumprir 40 horas de serviço comunitário mas que o Luisão não ficará inibido de conduzir.
O amsa, que tal como o Luisão também gosta de vinho,não se esquecerá de invocar esta sábia sentença na eventualidade de numa destas madrugadas ser apanhado com álcool a mais na asa.

6.1.07

10 milhões de euros...

É quanto vai custar a realização do referendo ao aborto.
Ora,

não esquecendo que nas duas anteriores experiências a maioria do povo português mostrou bem o quanto (não) preza a possibilidade de se manifestar em referendo sobre um dado tema, preferindo adoptar a espantosa abordagem estilo "elegemos os gajos precisamente para decidirem e agora os gajos querem chatear-nos com estas merdas e portanto porra para eles nem sequer vamos tirar o cú do sofá"...

vem por este meio o signatário do presente post declarar que caso a abstenção volte a ganhar no dia 11 então não restará outra solução lógica ao parlamento que não seja a abolição pura e simples do instituto do referendo.
Aplicam-se as sacrosantas leis do mercado: um produto que não desperta interesse tem naturalmente tendência a acabar.

4.1.07

Uma praga dos tempos modernos

Fiel a uma estratégia gizada há uns anos, neste Natal e passagem de ano voltei a não responder a nenhum dos sms que recebi e voltei a não ter a iniciativa de os enviar.
Sem surpresa, e confesso até que com alguma alegria, verifiquei que lentamente, quase de forma imperceptível, os frutos deste não labor, desta estudada indiferença vão aparecendo e se há uns anos via o meu telemóvel apitar irritante e incessantemente com dezenas de mensagens pré-formatadas e pretensamente engraçadas, este ano recebi apenas 4.

Nas palavras de um tipo com o qual muitas vezes discordo:
"...as pessoas deixaram de conversar porque a conversa, no sentido mais elevado do termo, implica disponibilidade, gentileza e imaginação. Por isso se enviam estes farrapos de conversa, que significam nada porque nada é o que as pessoas têm cada vez mais para dizer umas às outras..."
João Pereira Coutinho, Expresso 30.12.2006

31.12.06

Dilema moral



Ser contra a pena de morte e mesmo assim achar que foi feita justiça.

23.12.06

A mulher do ano.



Pode até parecer a algumas almas mais sensíveis que há um certo exagero no epíteto atribuído à personagem, mas a realidade é que “Carolina” como agora lhe chamam os portugueses teve um impacto na vida mediática lusitana só comparável ao dum elefante numa loja de porcelana.
Façamos, como se impõe, uma curta retrospectiva para melhor contextualizarmos a situação:
andava a dita cuja algo perdida entre as danças nos colos e nos varões quando Pinto da Costa, inebriado pelos calores nocturnos e provavelmente sob os efeitos secundários do comprimidinho azul (o melhor amigo do homem a seguir ao cão), se convenceu que aquela gata borralheira trabalhadora e boazinha era a mulher da vida dele, digna inclusivamente de ser apresentada a sua excelentíssima e soleníssima santidade il Papa.
Como sempre acontece nos contos de fadas, tudo correu na santa paz do senhor até que os efeitos do encantamento terminaram e a realidade, nada incomodada com a crueldade que às vezes a caracteriza, interrompeu o idílio amoroso dos improváveis pombinhos. Com direito a capa nas revistas cor-de-rosa e a entrevistas televisivas, veio Carolina com olhinhos de sabujo alemão gritar aqui d’el rei que tinha sido maltratada e mostrar, com estudada pose de mulher indefesa, as nódoas que provavam a negra e vil agressão. Estão as coisas mais ou menos neste pé quando sai do prelo o famoso “Eu, Carolina”, abrindo literalmente a caixa de Pandora. Por entre relatos das liberdades gasosas a que o seu Giorgio se prestava, ficamos também a saber acerca do café e dos chocolatinhos para os árbitros e do rocambolesco episódio do ataque ao vereador Bexiga. Findemos então a retrospectiva, aliás por demais conhecida e assim sendo quiçá desnecessária, e passemos a analisar os dados em questão.

Diz a apostólica e católica Igreja Romana que para um indivíduo alcançar o famigerado estatuto de Santo é forçoso que as competentes entidades especializadas na difícil tarefa da certificação de milagres declarem que tal indivíduo realizou pelo menos 3 destes mais pios dos actos e, dictum e factum, teremos Santo na costa.
Pois bem, eu, vil ateu ignorante nos caminhos e desígnios do Senhor e dos seus autorizados representantes, alvitro destemido, deixando à consideração da vossa superior análise que a dita Carolina já fez méritos mais que suficientes para cumprir tão apertado critério. Senão vejamos:
- é ou não um portentoso milagre mudar do estatuto de alternadeira, a gata borralheira, a namorada, a companheira, a noiva, passando novamente a reles rameira e finalmente a dilecta discípula de S. Jorge, matador de dragões?
- é ou não um portentoso milagre transformar em leitores compulsivos milhares de pessoas que anteriormente só exerciam essa capacidade nas legendas de filmes ou rodapé de telejornais?
- é ou não um portentoso milagre devolver, tão de acordo com o espírito da natalícia quadra, a alegria e a esperança a 6 milhões de portugueses?
- é ou não um portentoso milagre conseguir, no meio dos nebulosos meandros da justiça à portuguesa, ressuscitar de uma penada um processo que parecia moribundo?
- e finalmente, é ou não um assombro milagroso digno de divino registo fazer com que o indivíduo que reconheceu ter mandado agredir a apontasse como exemplo da atitude cívica?

Conclua-se à já longa epístola dizendo que Pinto da Costa ignorou sugestivos exemplos como os de Eva, Medeia, Dalila ou Lucrécia Bórgia, avaliou muito mal o perigo do errado manuseamento da dita Carolina e corre agora o sério risco de pagar por esse tão primário dos pecados, curiosamente às mãos de outra mulher.
Esperemos pois, com paciência de Jó, pelas cenas dos próximos capítulos.

6.12.06

Camarate.

Diga-se que já lá vão 26 anos, 7 ou 8 comissões de inquérito, mais de 10 Governos e 3 Presidentes da República. Diga-se que quer o Ministério Público quer os diferentes tribunais que se pronunciaram sobre o caso concluiram que as provas existentes nem sequer justificavam a realização de um julgamento e que o alegado acto entretanto já prescreveu.
Pouco interessa. Alguns dos nossos políticos, sempre prontos a encher a boca de generalidades como o respeito pela separação de poderes e pela autonomia dos tribunais quando a coisa não lhes toca a eles, não concordam e como acham que se tratou de um crime preparam-se para engendrar uma qualquer solução ad hoc que permita que este caso chegue a julgamento.Que a genial dupla Marques Mendes - Marques Guedes se saia com esta ideia não é de espantar. Que aquele pavão arrogante chamado Marcelo Rebelo de Sousa não perceba (ou finja não perceber) o perigo desta linha de acção já é mais surpreendente. Que o PS se prepare para alinhar no jogo torna o assunto um caso bem sério porque dá pernas para andar a esta noção idiota do Parlamento como o verdadeiro Supremo Tribunal.
Assim sendo só resta esperar que Cavaco Silva esteja atento e não deixe passar em claro esta irresponsabilidade. Não será preciso muito esforço, afinal basta uma palavrinha rápida num qualquer discurso.

4.12.06

Rejeição.

Fechou a porta com estrondo e encostou-se a ela como quem procura um abraço ou um ombro amigo. Dentro do peito o coração batia forte e rápido, como se pretendesse escapar daquela prisão, daquela dor, rompendo violento por costelas, esterno, derme e epiderme. Depois de ter cumprido um longo trajecto desde o canto do olho chegou-lhe à boca uma lágrima, solitária e triste, nem doce nem amarga mas sim com um leve travo a salgado. Inevitavelmente lembrou-se do gosto dos lábios dela, uma improvável mistura de limão, canela e maçã. Por mais que pensasse não encontrava resposta para as perguntas que sem descanso lhe martelavam a cabeça: porquê? o que correu mal? onde falhei? porra, será que falhei?
Que não era culpa dele, tinha-lhe dito ela. Que lá bem no fundinho não era culpa de ninguém, que era óbvio que a relação não tinha rumo, não tinha futuro, vivia apenas do passado e estava imóvel, parada no tempo do presente como um velho sentado à beira da estrada a pensar no que já foi, mero espectador da vida dos outros. Que tinha por ele muito carinho, disserá ela sem se aperceber da mais que absoluta crueldade da expressão. Não conseguiu evitar um sorriso, no fundo um esgar de cinismo. Ele que durante anos sempre se fechara em copas, evitando ir a jogo, evitando o terreno minado das relações, tinha atirado o cuidado às urtigas e dado finalmente tudo de si, arrastado num torpor dormente, metade dor metade prazer, enfeitiçado por aqueles enormes olhos de preto azeitona, ao mesmo tempo límpidos e enigmáticos.
Incoerências, contrasensos, irracionalidades várias.
Os sinais estavam lá, pensava agora enquanto olhava para trás. Como era possível ter sido vaidoso ao ponto de presumir que poderia conter numa redoma toda aquela alegria, aquele sentido de humor e sorriso imparáveis, cheios de promessas, cheios de calor? Tinha-se resumido tudo a uma luta inglória com um final tão previsível que nem sequer se podia dizer surpreendido. Quantas vezes tinha assistido a situações destas, confortavelmente instalado no seu habitual posto de atento observador, seguríssimo no seu papel de ombro amigo para as horas más, fiel porto de abrigo. Onde estava agora toda a confiança, a calma que demonstrava quando arrogantemente aconselhava os outros? Idiota.
As frases feitas, os muitos peixes do mar, o tempo que tudo cura, de que lhe serviam agora, no meio da baba e do ranho? Idiota.
Como um autómato serviu-se de um copo generoso de whisky que tragou com um gole. Bebeu outro e ainda mais outro, numa patética tentativa de conquistar um estado de ausência, um não estado onde tudo aquilo não existisse pelo menos durante um par de horas. Onde ela não existisse. Nem os olhos, nem o sorriso, nem as mamas, nem aquela boca e aquela língua. Deu consigo a masturbar-se, de raiva e de despeito. Só quando se veio, mecanicamente, cansado e banhado em lágrimas, é que constatou que o lhe doía não era estar novamente sozinho. O que lhe doía ao ponto de o queimar por dentro era a profunda certeza de que iria sempre gostar dela.

16.11.06

No meio das pedras e dos chicotes...

De tempos a tempos, contrariando uma visão da mulher que parece comum a grande parte do mundo islâmico (como um mero instrumento de posse, sem direito a escolher com quem casar, o que vestir, onde ou como trabalhar, etc...), lá aparecem umas notícias que, enfim, lançam uma pequena esperança de que o estado actual das coisas não é uma fatalidade inalterável. Será uma mera luz ao fundo do túnel, eventualmente até uma vitoria de Pirro se tivermos em conta as reacções dos partidos religiosos, mas mesmo assim esta iniciativa merece ser saudada.

9.11.06

Perdedores.


O dia de ontem foi marcado pelas eleições americanas, cuja influência é tal que há quem sugira meio a sério meio a brincar que o assunto é importante demais para ser decidido só por eles.Desta vez não houve milagres de última hora para contrariar as sondagens e os republicanos perderam mesmo a Câmara dos Representantes e provavelmente o Senado.
Não lhes valeu a roda viva em que Bush passou os últimos dias, nem a gafe de John Kerry ou a sentença de Saddam. Não lhes valeu usar o medo como arma eleitoral, nem o recurso a truques pouco edificantes como os negative adds ou até insinuar o suposto anti-patriotismo de alguns democratas (por se atreverem a discordar do rumo seguido no Iraque ou do uso de tortura nos interrogatórios de suspeitos). Não houve voto evangélico salvador.
Visto de fora, nem sequer se pode dizer que o mérito é inteiramente dos democratas mas sim da conjugação entre o crescente número de baixas americanas no Iraque (agravado pela percepção cada vez mais clara de que não há uma estratégia para resolver o futuro do país, quanto mais torná-lo num exemplo de democracia...) e o acumular de escândalos comprometedores envolvendo alguns dos principais elementos do Partido Republicano.

Dá-me vontade de rir as teorias que começam a circular por aí (nos blogues do costume) de que quem está contente com este resultado só pode ser o povo de esquerda que festeja as vitórias de Lula e simpatiza com Castro, Morales ou Chavéz. É tão fácil meter tudo no mesmo saco e brandir a estafada acusação de anti-americanismo primário. Eu, que estou contente porque Bush e a sua doutrina perderam, não aceito esse rótulo.
Pode ser um excesso de optimismo ou até ingenuidade, mas acredito que a partir de 2008 o próximo Presidente (seja ele o republicano McCain ou a democrata Hillary) não cometerá os mesmos erros de Bush, mesmo que a política externa dos EUA se mantenha mais ou menos igual.

2.11.06

À conversa com uma mulher de 70 anos...

A simpática madame, mulher de armas, resistente de muitas batalhas, com uma vida de trabalho de sol a sol no campo e 24 sobre 24 em casa, com uma tolerância à dor de fazer inveja a muito pseudo-macho que por aí anda, afectada por um severo caso de pelosidade malina quer facial quer nos apêndices locomotores, dissertava, daquela forma que só as pessoas verdadeiramente genuínas sabem fazer, sobre a sua relação com o marido.

Contava ela que, mesmo com mais de 50 anos de casamento, ainda se dão muito bem ou melhor sempre se deram bem. Riem-se, ela vai-se metendo com ele porque ele é mais do estilo calado e nunca, mas mesmo nunca discutiram. Nem uma vezinha que fosse. E isto derivado da forma de ser dos dois e da forma como ela foi educada, sendo que teve uma avó que muito lhe ensinou. E deu como exemplo esta pérola que passo a partilhar:
"A minha avó dizia para olhar sempre com atenção para a cara do marido quando ele entrasse em casa. Se vinha chateado, aconselhava-nos a fazer duas coisas: primeiro devíamos encher a boca de água, isto para não correr o risco de dizer algo que o irritasse, e depois devíamos esconder da vista ou pelo menos arrumar para um canto qualquer banquito que houvesse na cozinha, isto para não correr o risco de levar com ele nas costas."

Antes de se ir embora, ainda se ria bem disposta quando disse "ah eu digo estas coisas mas a verdade é que com esta barba tão forte eu podia bem ser homem".

30.10.06

Mais valia terem estado quietinhos...

Gosto do Gato Fedorento. Sketches como o da claque de futebol, o do tipo “o que tu queres sei eu”, o do cunami ou mesmo o rap dos matarruanos são momentos de puro génio e ficarão para a história do humor em Portugal.
Assim sendo, foi com grande expectativa que me preparei para assistir ao 1º episódio da nova série “Diz que é uma espécie de Magazine”.
Bom, num esforço para ser meigo na apreciação diria que foi assim uma espécie de acto falhado ou se preferirem uma espécie de valente trampa, só se salvando os poucos sketches (especialmente o calceteiro lisboeta e o Salazar).O modelo dos 4 sempre em palco encadeando uma série de piadas mal alinhavadas tipo papagaios ensaiados é um bocejo só e o que dizer então do público ao vivo? Se era para isto mais valia terem ido para o Levanta-te e Ri. Já a participação de figuras convidadas (neste caso os Da Weasel) para servir de introdução a mais sequências de piadas forçadas e obrigatórios risos enlatados da audiência, é uma ideia que remete quase para o programa do Herman, o que como se compreende não é positivo.
Volta Lopes da Silva…?

27.10.06

Seinfeld

"People don't turn down money.
It's what separates us from the animals."

20.10.06

Aborto. Ou IVG. Ou desmancho.

Preâmbulo
Hoje, 19 de Outubro do ano da graça de 2006, voltou a discutir-se o aborto na Assembleia da República. Aprovada a proposta do PS, rezam as crónicas que o referendo será lá para finais de Janeiro ou inícios de Fevereiro.

Raramente vi nos últimos anos um qualquer tema ser discutido duma forma tão apaixonada e, talvez por isso, tão repleta de imbecilidades várias como este tem sido.Desde as mulheres que solenes, altivas e autoritárias entendem mostrar o ventre com um “aqui mando eu” escrito, aos manifestantes ditos pró-vida que as classificam como assassinas e usam para dar maior dramatismo à acusação fotos de fetos com muitos meses como se tivessem algumas semanas. Sem esquecer aqueles que acham que tudo está bem assim, leia-se as ricas vão fazer o “serviço” travestido de viagem de compras a Londres e as pobres e remediadas ficam-se pelos vãos de escada mais próximos.Movimentos ditos pró-aborto, movimentos ditos pró-vida, no fundo tudo faces do mesmo maniqueísmo primário, cada qual invocando supostos direitos e supostas superioridades ético-morais, numa amálgama mal alinhavada de conceitos científicos, religiosos e sociais.

Desde que o mundo é mundo sempre existiu o aborto. Através do recurso a rezas, responsos, ervas, chás, comprimidos ou actos cirúrgicos, as técnicas de desmanchos foram-se modernizando, a par e passo com os progressos da ciência e os ditames das diferentes sociedades. A verdade é que independentemente da vontade de legislar e de regular a interrupção voluntária da gravidez, esta será sempre um acto profundamente individual (com ou sem apoio do parceiro) mas mesmo assim individual e até solitário. Sendo pragmático, diga-se que não se pode obrigar nenhuma mulher a levar uma gravidez não desejada ao seu termo tal como não se pode obrigar a uma interrupção da mesma.
Dizem alguns que a questão está na (irrespondível) premissa do “onde começa a vida”. No óvulo? No espermatozóide? Às 10 semanas? Às 16? Ou talvez só quando o feto adquire capacidade para ser viável no mundo exterior? Cientificamente falando acho lógica a conclusão de que a vida, tal como a conhecemos e aceitamos, começa com a formação do Sistema Nervoso Central, com uma mesmo que leve noção da existência duma consciência, da percepção do Eu ou até da capacidade de sentir dor. Como dizia outro dia o Albino Aroso, isto é razoável porque é exactamente o raciocínio que aplicamos para decretar a morte em casos duvidosos: há vida enquanto há algum tipo de actividade cerebral.
De qualquer forma não me parece que a questão seja esta, ou muito menos se as mulheres são ou não levadas a julgamento. Chamem-lhe crime, pecado ou direito, um aborto é algo profundamente indesejável tanto para uma só mulher como para a sociedade enquanto um todo. Julgo que a ninguém no seu perfeito juízo pode ocorrer usar a IVG de forma leviana ou como sistema de controlo de natalidade. Dito isto, chegamos aquele que é para mim o cerne da questão. Nem pílulas nem preservativos nem DIU’s nem coitos interrompidos ou métodos de medição de temperaturas garantem 100% de eficácia. Assim sendo, as pílulas do dia seguinte ou mesmo os abortos serão sempre uma realidade independentemente da lei, da religião, da moralidade, consciência social vigente ou até do país em que se viva. Como a decisão será sempre individual, então o drama é que um aborto possa ocorrer de forma clandestina, suja e perigosa, tanto do ponto de vista da saúde física como da saúde psicológica da mulher. Encaremos assim a questão de frente, para que quando uma mulher estiver na dúvida sobre o que fazer possa ter um acompanhamento médico, psicológico e social para apoiar qualquer decisão que ela vier a tomar (IVG, dar o bebé para adopção ou tentar criá-lo). É preferível, ou melhor, é necessário que tudo isto se passe à luz do dia, com profissionalismo, compaixão, informação e segurança.
Se sou a favor da vida? Claro (quem não é?).
Se punha algum dia em hipótese, dependendo do contexto, sugerir à minha parceira um aborto? Posso facilmente escrever um rotundo não, mas é mais real dizer que não sei.
Se acho que um aborto só deve ser encarado como uma solução de último recurso? Sim.
Se vou votar a favor da despenalização do aborto (e contra a clandestinidade e alguma hipocrisia)? Sim.

11.10.06

Lei das Finanças Locais




Qualquer medida que suscite a oposição destes 2 indivíduos merece o meu total acordo. Com direito a ser aplaudida de pé.

9.10.06

Em Lisboa, no dia 7 do 7 de 2007

...serão anunciadas as Novas 7 Maravilhas do Mundo. A New7Wonders Foundation, criada pelo suíço Bernard Weber em 2001, dedica-se à divulgação e preservação de monumentos mundiais e 2 200 anos depois da eleição das 7 maravilhas do Mundo Antigo, propôs-se organizar uma nova escolha desse género.

A votação é aberta a todos os cidadãos do mundo, podendo ser feita por telefone ou pela net. Há 21 monumentos seleccionados (desconheço quem os escolheu e os critérios seguidos), incluindo alguns cuja presença é muito discutível, mas a verdade é que não é nada fácil escolher apenas sete.

Fica o desafio e já agora a escolha que fiz (a ordem é aleatória...): -Grande Muralha da China, Pirâmides de Gizé, Coliseu Roma, Torre Eiffel, Petra, Pirâmide Chichén Itza, Acrópole Atenas.

2.10.06

ADSE.

-Li há algumas semanas na coluna de opinião que Vital Moreira mantém no Público um artigo (sem link) em que este se insurgia contra o enorme buraco nas contas da ADSE, propondo como solução mais justa o fim deste sistema de assistência (ou em alternativa um aumento nas contribuições dos seus beneficiários directos que permitisse tornar a ADSE auto-suficiente).

-O Governo veio há dias anunciar esses mesmos aumentos (de 1 para 1,5% para os funcionários no activo) e a novidade dos trabalhadores já reformados também contribuirem. Parece pouco e provavelmente não evitará que as contas da ADSE continuem no vermelho, mas é um passo justo na mais que lógica harmonização do sector público e privado.

-Depois de anos a levar com a retórica da direita (supostamente mais liberal) acerca do excessivo peso do Estado, acerca da sua autofagia só para se manter a funcionar, confesso que é com alguma incredulidade que ouvi Marques Mendes criticar esta medida. Como se isto não fosse suficiente, ainda tive hoje o duvidoso privilégio de ler Luís Delgado a qualificar esta medida governamental como uma "taxa injusta e inédita em termos de justificação."

Ora meus amigos, se um governo PS e um colunista ex-PCP são o expoente liberal da sociedade e o PSD e um colunista pró-direita, pró-Santana, pró-Bush, etc... ficam do mesmo lado da barricada que Carvalho da Silva ou Bettencour Picanço, então há que dizer que o mundo está mesmo ao contrário.

27.9.06

Actualidades.

- A intenção do governo de instituir taxas moderadoras por acto cirúrgico ou dia de internamento é um erro (contrariamente às taxas de acesso às urgências), pois implica pagamentos por actos que não decorrem por inteiro da vontade do paciente mas sim de decisões médicas. Para aqueles de vós que aceitam o princípio do utilizador/pagador como justificação para esta medida, diria que a este ritmo, e sendo fiel à lógica da coisa, tudo o que é tendencialmente gratuito será pago, o que quanto mais não seja me deixa a pensar porque raio pagamos impostos.
- Não votei em Cavaco Silva, mas reconheço sem dificuldade (e já agora sem surpresa) que a sua acção nestes primeiros 6 meses tem sido globalmente positiva. Ontem, na sua primeira visita de estado, e contrariando a prática política instituída de debitar generalidades e fugir a temas polémicos, CS discursou no senado espanhol e protestou contra o evidente proteccionismo económico que grassa daquele lado da fronteira. É duvidoso que sirva de alguma coisa, mas teve o mérito de mostrar que o homem pelo menos tem cojones.

21.9.06

Crenças.

Não acredito no destino. Não acredito que a cronologia e sequência dos acontecimentos em que participamos já esteja previamente escrita num qualquer sítio, seja este o paraíso bem lá acima das mais altas das nuvens ou as profundezas malinas dos quintos dos infernos.
Como explicar então tantos acasos e coincidências, tantos encontros e desencontros às vezes tão improváveis que lá surge o destino, inevitável como ele só, como única explicação satisfatória?Acho que somos exactamente como moléculas num espaço fechado,
orbitamos,
circulamos,
cirandamos,
e de repente zás trás pás
lá batemos uns nos outros.
Demasiado prosaico? Talvez sim.
Talvez já estivesse determinado que eu iria um dia escrever este post.
Talvez seja mesmo verdade que "quem tem de morrer de um tiro não morre de uma facada".

20.9.06

Impedimentos.

Intróito.
Outro dia tive o duvidoso privilégio de ver aquele senhor que guarda o seu dinheiro na conta de um sobrinho taxista na Suiça a reagir a uma notícia do novo semanário Sol, que dava conta dos seus continuados problemas com a justiça. Disse o energúmeno que o referido jornal é um pasquim dirigido por amigos do Dr. Marques Mendes, que têm por objectivo transformar este último em Primeiro-Ministro.
Fim do intróito.

Uma das coisas que melhor diferencia uma democracia de um regime anárquico é a existência de regras, de limites que visam impedir/regular determinados comportamentos.Uma dessas regras estipula que um cidadão só se pode candidatar à Presidência da República depois de atingir os 35 anos de idade. Ora, pensando em Marques Mendes, ocorre-me num cínico acesso de descriminação avulsa que um tipo para ser Primeiro-Ministro devia obrigatoriamente ter mais que 1,70. Na mesma linha de raciocínio, e por uma questão de boa representação do país, devia estar consagrada na lei a obrigação das nossas atletas andarem sempre bem depiladas (tudo para evitar que mais crianças se vejam traumatizadas para todo o sempre com imagens como os sovacos peludíssimos da Rosa Mota ou o viçoso buço alourado da Fernanda Ribeiro).
Continuando, e assim ao correr da pena, sugiro que:
, tipos como o Castelo Branco deviam ser impedidos de sair do país ou de regressar caso já estivessem lá fora
, o Luís Represas seja terminantemente proibido de gravar mais músicas e de cantar novamente "A próxima vez"
, cidadãos com o nome de Armando Vara, Santana Lopes ou Joaquim Pina Moura se vejam impedidos de exercer na função pública
, toda a discografia infantil da Ana Malhoa seja apreendida e queimada, de preferência em conjunto com as suas tangas à leopardo
, indivíduos com bigode não possam comer sopa em público
, seja proibido aos homens a possibilidade de usarem t-shirts caviadas.

19.9.06

O valor das palavras.

Hoje ouvi um tipo na rádio (um daqueles em que o título académico já quase faz parte do nome próprio) contar uma história em que entre outras coisas se ficou a saber que a sua nora o trata por tio. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. O tio isto, o tio aquilo. Confesso que não compreendo. Aliás da mesma forma que não compreendo que por exemplo alguém possa chamar pai e mãe aos sogros ou até filho/filha a um genro ou nora, por mais que se goste dessa pessoa.
Talvez porque sinto, lá bem no fundinho daquelas células onde se sentem os sentimentos mais profundos, que há palavras que têm muita força, palavras que representam algo ou alguém único e insubstituível. Diz a cantilena que mãe é a maior palavra pequena que o mundo tem. Diz a sabedoria popular que mãe há só uma e que tem uma mãe tem tudo. O mesmo se aplica à utilização da palavra pai ou mesmo da palavra filho/a. Para mim são termos que representam não só ligações biológicas e laços familiares mas fundamentalmente afectos, carinhos, paixões mesmo. Não tem nada de banal ou de corriqueiro e não deviam portanto estar ao sabor dos usos e formalismos do jet-set ou das convenções e contextos sociais. Nem na foz do Porto nem na linha de Cascais.

P.S.- Acabei de reler o que escrevi. Não pretendo armar-me em polícia da linguagem ou fiscal das relações dos outros, mas a verdade é que isto me eriça um bocado os pêlos, a mim, tripeiro criado no hábito do tu (e não do você) e ensinado a chamar os bois pelos nomes.

18.9.06

...



De há uns anos para cá os grandes estúdios de Hollywood re-descobriram o filão das adaptações de comics.Superman voltou agora mas na realidade já tem umas décadas, tal como Batman. Mais recentemente surgiram os X-Men, o Homem-Aranha, o Quarteto Fantástico e até o menos conhecido Spawn. De todas estes projectos aquele que foi para mim mais surpreendente quer pela qualidade do filme quer pela dificuldade da adaptação foi Sin City, a genial obra de Frank Miller (tal como disse aqui e para quem ainda não conhece, aconselho o filme e especialmente os livros).

Ontem tive oportunidade de ver este V for Vendetta, baseado numa série de banda desenhada (que infelizmente nunca li) criada por um tipo chamado Alan Moore. A acção tem lugar numa Inglaterra futurista governada por um tirano autoritário, que usa a tecnologia para controlar a população e o medo para a manter submissa. Tudo assumidamente inspirado portanto no 1984 de George Orwell.

É impossível ver a forma como as liberdades individuais estão aqui limitadas em nome da segurança contra o terrorismo e não relacionar com o contexto actual (e futuro...) da nossa própria realidade. Acrescente-se a tudo isto actores como Natalie Portman e Stephen Rea, e uma produção a cargo dos irmãos Wachowski (o nome não me era estranho mas tive que ir pesquisar para confirmar que são mesmo os da trilogia Matrix) e temos um filme a não perder(cujo único ponto negativo é a ausência de quaisquer extras na versão de aluguer). Fica a sugestão.

11.9.06

Crónicas de uma paixão...e demais histórias associadas.

Confesso que tenho alguma dificuldade em lembrar-me da minha primeira vez. Não porque tenha corrido especialmente mal ou já agora especialmente bem, mas sim porque foi há muito tempo. Foi numa altura em que os bigodes, daqueles farfalhudos sempre com restos de sopa a morar nos cantos, ainda estavam na moda, em que o Carlos Cruz era só o apresentador do 1,2,3 com a sua inesquecível bota botilde, em que ainda havia escudos e em que tínhamos de vencer filas de carros à espera dos controlos fronteiriços quando íamos comprar caramelos a Espanha,daqueles que se colavam de forma malina ao dentes e ao céu da boca.
Julgo que tudo começou em S. Pedro de Moel, rodeado por pais e tios e primos e avós, mas confesso que àparte um incidente que envolveu a minha avó, as minhas partes pudendas e uma panela de sopa a ferver, tudo o resto está envolto em névoa. Mais tarde recordo umas curtas idas a Esmoriz, com o seu belo ringue de futebol e a sua mosquitada mal intencionada, mas fora estes dois casos não tenho memórias muito vivas do início do meu percurso como campista.
Salto, assim sendo, para os meus 16 anos e para a 1ª experiência de férias só com amigos. O local escolhido, porque terá sido?, foi a então pacata vila alentejana da Zambujeira do Mar, à qual só chegávamos depois de uma aparentemente interminável viagem de autocarro Porto-Lisboa-Zambujeira. A bela da camioneta despejáva-nos na praça central e lá zarpávamos nós, estranha e desorganizada caravana de camelos carregados como mulas a arrastar, na marra e na garra próprias da inconsciência e inconstância da tenra idade, malas, tendas e até almofadas (??), nessa curta rota de 1,5 Km de alcatrão que nos separava do el-dorado, que nesta história tomava a forma de um bastante reles parque de campismo. Como se alguém se tivesse sentado um dia à sua secretária e querido acrescentar drama a esta película de série B ou talvez testar de alguma forma as teorias darwinianas, diga-se ainda que a camioneta chegava às 21h45m e a recepção do camping fechava às 22h. Depois da correria, e conseguida a tão almejada admissão no parque, as tendas eram montadas no meio do breu, com pedras a servir de martelos, mas nunca sem que antes nos envolvéssemos na eterna discussão o sol põe-se além logo nasce acolá consequente para ter sombra este local é bom e aquele é mau vê-se logo que tu não percebes bolha desta merda. Invariavelmente tínhamos logo no dia seguinte o duvidoso privilégio de constatar que de facto os adolescentes acneicos percebem muito pouco de pontos cardeais e órbitas solares. Sem colchões de jeito, as noites eram passadas a experimentar cuidada e demoradamente todas as irregularidades e calhaus do solo alentejano. Dessa 1ª experiência guardo a rotina das rondas nocturnas pelos bares da vila e da obrigatória passagem final pelo Clube da Praia. Alcoolizados mas quase sempre felizes, voltávamos às tantas para o parque mas antes do descanso dos guerreiros havia ainda tempo e vontade para jogar umas memoráveis cartadas, quase sempre King, sentados nas estradas do parque sob as ténues mas fiéis luzes de lampiões tristes e sós. Para lá do normal correr atrás de rabos de saias, em que uns privilegiavam a fauna local e outros atacavam as estranjas, à lá Camarinha destemido, (diga-se a talho de foice que a maior parte das caçadas acabava com a fuga inglória da presa), o que mais recordo é a fome que passávamos. Mais dados à bola e demais actividades testosterónicas, praticamente nenhum de nós tinha aproveitado a vontade de ensinar culinária básica à prole que anima todas as mães. Assim sendo, a ementa diária ia de sandes de atum àquelas refeições pré-cozinhadas (por mais que viva não mais esquecerei o esforço sobre-humano que foi engolir o conteúdo de uma latinha de dobrada fria), porque o dinheiro era pouco, à justa para pagar viagens, parque e bebidas. Não posso assegurar em que dia foi, 3º?, 4º?, mas uma tarde em que estávamos estendidos na praia, meio ressacados e literalmente com o estômago colado às costas, o JB e eu decidimos subir aquela longa escadaria, ir à primeira esplanada, mandar a lógica económica às urtigas e investir tudo numa refeição. Sentámo-nos, escolhemos, e preparávamo-nos para fazer a via sacra da espera pela comida, quando o tipo que estava duas mesas ao lado se levantou e foi embora, deixando bem no centro da mesa metade de uma dose de batatas fritas. Mudos mas atentos, tivemos os dois o mesmo instinto, animal, primário, tão velho quanto o Homem, e quando o rapaz passou por nós com o intuito de levar os restos da dose de batatas para dentro, a fome venceu facilmente a vergonha e os pruridos higiénicos. Fosse pelo invulgar da situação ou simplesmente por ter percebido o nosso desespero, a verdade é que ele se limitou a esboçar um largo sorriso e sem dizer nada lá pousou os restos meio comidos daquelas maravilhosas french fries, um manjar como poucos tive desde então.
Lembro-me ainda do meu espanto inicial sempre que alguém com quem entabulava uma conversa me dizia logo ah mas tu és do Porto. De vez em quando, como é próprio destas idades, os bacocos orgulhos regionais vinham ao de cima e lá nos envolvíamos em disputas verbais com malta de Lisboa, que acabavam com um desafinado coro de vozes a cantar ao desafio o Cheira bem, cheira a Lisboa e o Porto Sentido. Para os anais da história ficou também um célebre jantar no Casino da Ursa, julgo que já no 2º ano de acampamentos, passado a ver uma final da supertaça Porto-Benfica. Mesmo com a casa cheia e a deitar por fora, a nossa mesa era a única de portistas, e à medida que o dramatismo do jogo ia subindo as picardias aumentavam de tom, em paralelo com o correr das canecas de vinhaça da casa. Depois de um empate, a 2?, chegou-se aos penalties. Tendo começado a perder, o Pinto da Costa agarrou-se ao crucifixo e à imagem da Santa, ajoelhou-se na relva e por entre rezas de uns e lágrimas de outros lá acabámos por dar a volta à coisa e ganhar o caneco (a algazarra que se seguiu foi de tal ordem que fomos expulsos por um proprietário, com evidente dor de cotovelo).continua...

6.9.06

???



Não sou especialista de marketing. Aliás, diria mesmo que olho para este assunto como um boi para um palácio, mas há coisas difíceis de entender. Pode ser politicamente incorrecto, mas a verdade é que a contradição é tão grande que se torna complicado ouvir o que o homem tem a dizer.

Estão a matar a bola...

O caos em que vai vivendo o nosso futebol é tão parecido com um circo e os diferentes protagonistas parecem tão obstinados em se comportarem como palhaços que até um gajo como eu, fanático desde o berço pelo chamado desporto-rei, começa a estar saturado e diria mesmo, heresia das heresias, com uma preocupante falta de vontade para prestar atenção ao jogo em si.Posto isto, e como forma de evitar perder demasiado tempo com isto, limito-me a sugerir aos interessados sobre o Caso Mateus que consultem posts e comentários neste blog amigo .
Quanto ao resto não resisto a linkar este artigo sobre o novo e tantas vezes auto-proclamado campeão da seriedade, moral e bons costumes do nosso futebol, e este outro artigo sobre o velho e aparentemente eterno rosto do sistema, propalado campeão do jogo sujo e da trapaça, enfim responsável-mor pela corrupção no nosso futebol.
Depois de tentar provar que o Porto de Mourinho, vencedor da UEFA e da Champions, necessitava de comprar as arbitragens para levar de vencida adversários como o Estrela e o Beira-Mar, com o campeonato quase matematicamente assegurado, o que resta agora ao Ministério Público? Emitir um comunicado dizendo que não tem dúvidas que o Jorge Nuno é corrupto, mas infelizmente, por estupidez ou incompetência, não é capaz de o provar. É que já não há paciência para ver arrastar durante anos a fio o nome do homem como arguido e depois concluirem não ter matéria para avançar. Para isso, já chegavam os últimos 20 anos de conversas de café por esse país fora.

29.8.06



...porque às vezes os líquidos não obedecem às leis da natureza e não se limitam a descer no sentido do plano inclinado. Às vezes, mas só às vezes, outras forças mandam mais.


Por exemplo, a electricidade estática à superfície da epiderme, ou a orientação dos folículos que são o casulo onde moram os pêlos. Pode até, o causador da irregularidade, ser um músculo que se contrai num dado momento mais ou menos inesperado ou até um simples arrepio, mesmo que leve, mesmo que muito breve.


Às vezes, poucas ou nenhumas vezes, os líquidos fartam-se da previsibilidade do seu comportamento, não por causas que a física, a dinâmica ou outras ciências humanas possam explicar mas apenas e só porque sim. Porque até uma gota de água tem direito a ter um simples momento de espontaneidade, mera satisfação de um capricho ou vontade.

28.8.06

Filosofia de Verão, na praia.

Não há nada mais ridículo que um homem a jogar futebol de tanga.

8.8.06

Uma ideia perigosa.

Agosto. Dá ideia que toda a gente ou está de férias ou está em regime de serviços mínimos ansiosamente à espera das ditas. Nesta morrinha leve, no meio do estupor causado pelo calor, rodeado por incêndios e entretido com os dias passados à beira-mar, o país lá vai andando meio anestesiado.
Na blogosfera o cenário repete-se. Escreve-se menos, comenta-se menos, já não há grande pachorra para polémicas ou debates. Mesmo assim, e enquanto não vou de férias, não posso deixar de comentar a recente notícia de que há uma empresa (irlandesa?) que nos seus anúncios de recrutamento avisa explicitamente que os fumadores escusam de responder. Segundo o seu gerente (dono?), fumar constitui um acto idiota revelador da estupidez do praticante, e como ele obviamente não quer empregar pessoas estúpidas, nada mais lógico que excluir à partida os fumadores.
Perante este flagrante caso de discriminação, a sempre atenta e por demais importante comissão europeia, liderada pelo sempre atento e por demais importante José Manuel Barroso, foi chamada a pronunciar-se e declarou que não há na legislação comunitária nada que impeça esta tomada de posição. Se a questão fosse excluir com base em raça, idade, religião, sexo e outras que tais, aí sim, aqui d'el rei que a dita empresa iria sentir a pesada mão da comissão, mas em relação ao acto de fumar a omissão na lei representa na prática uma autorização.Ora eu, que não fumo e que até concordo com as restrições relativas ao tabaco nos locais de trabalho e nos espaços fechados como medida de promoção da saúde pública, acho que é necessário tomar uma posição forte contra este modus operandi, que até pode ser legal mas que representa uma escandalosa intromissão na esfera pessoal de cada um. O exagero do politicamente correcto, a busca do homem perfeito, liberto de vícios e pecados, não nos pode conduzir a uma sociedade saudável, muito pelo contrário. As tentativas de formatação, de homogeneização dos indíviduos, de selecção de características julgadas ideais por alguns iluminados, tiveram sempre resultados trágicos. Se deixamos passar hoje a questão do tabaco nestes moldes, o que virá a seguir?
Cada vez mais, big brother is watching you...

1.8.06

Boas e más notícias...

Boa notícia: o ministro das finanças entregou no parlamento documentos que parecem provar que no 1º semestre deste ano houve uma redução de 4 345 funcionários públicos (e não um aumento de 10 166, como se aventou há dias). Como estou farto de olhar para o copo e vê-lo sempre meio vazio, sinto-me tentado a acreditar.

Má notícia: todo o incrível processo da (do?) Gisberta. Foi espancada, torturada, violada e atirada para um poço do qual nunca veio a sair. Para a nossa justiça o essencial em toda a situação parece ser não traumatizar mais os pobres adolescentes que, coitados, já tiveram que responder em tribunal por isso e que, quais heróis, até colaboraram com o MP e responderam educadamente às perguntas do Juíz. Em Deus querendo hão-de vir a ser cidadãos exemplares...Assim vamos andando, uns inimputáveis, outros irresponsáveis, outros mortos por afogamento.

Boa notícia: a publicação da lista de devedores ao fisco, à qual se seguirá outra relativa à S. Social. A utilidade é algo duvidosa, mas ao menos serve para mudar a inútil conversa generalista "dos que fogem", sem que nunca se conheçam os bois pelos nomes.

Má notícia: a situação no mundo vai de mal a pior. Não bastavam os atoleiros Iraque e Afeganistão, não bastava o Ruanda e a Somália, isto sem mencionar os mísseis da Coreia do Norte e o programa nuclear do Irão. A guerra Israel-Hezbollah-Hamas-Síria-Irão está a resultar não só na destruição do Líbano e na morte de civis, mas também a conduzir o Médio Oriente para um buraco sem saída. O fanatismo extremista (criminoso!) de uns e a estupidez de processos (criminosa!) de outros torna difícil atribuir culpas, mas apesar de toda a revolta que massacres sem sentido como o de Qana fazem sentir, nós ocidentais só podemos torcer para que Israel acabe por conseguir levar a melhor sobre o Hezbollah. Qualquer outro cenário resultaria num pesadelo ainda maior que o actual.

26.7.06

J.

Este post é sobre o meu filho.
Confesso que sinto alguma relutância em falar dele aqui, como se fosse um passo abusivo juntar o mundo real com este país das maravilhas, esta realidade ficcionada que é a blogosfera. Mas ter um blog, alimentá-lo com as nossas ideias e às vezes com a nossa intimidade é sem sombra de dúvida uma forma de exposição. Controlada sim, mas ainda assim uma exposição. E por mais dúvidas que tenha, por maior que seja o desconforto que sinto em expôr também o J., que já tem personalidade própria mas que não pode ter voto na matéria, a verdade é que não poderia deixar de falar sobre o 1º aniversário do meu filho.
Falo de futebol, de política, de religião, falo de mim, falo um pouco de tudo e de nada. Hoje tenho o enorme prazer e chego até a sentir-me quase que obrigado a falar sobre alguém realmente importante, um VIP na verdadeira acepção do termo. Não vou gastar muito latim a babar sobre o J. e prometi a mim próprio que ia fazer um esforço consciente para evitar usar o sufixo inho (riquinho, fofinho, amorzinho,etc...) praga que parece atingir todos os pais e mães que conheço.Sempre gostei do cheiro dele, do tacto e do contacto. De o ver primeiro a sorrir e depois, mais tarde, a dobrar o riso. Das tentativas de verbalizar, de comunicar. De o ver gatinhar como um GI Joe e agora começar a tentar andar. Olho para ele agora, quando dança ao lado da nossa cama aos domingos de manhã ao som dos amigos do gaspar, sempre ansioso por aprender coisas novas, por abarcar todo este imenso mundo novo que vai aos poucos descobrindo, e digo-vos que o amo desde que ele nasceu, mas que quanto mais o conheço mais gosto dele.








Estive para não pôr a foto, mas não resisti. Utilizando uma expressão que foi dita a brincar mas que não deixa de ser verdadeira: é tão bonito que nem parece filho do pai dele.

24.7.06

...

Fiel a mim próprio (o que diga-se de passagem e agora que penso nisso é uma frase um bocado ridícula, ou não fosse utilizada com frequência por jogadores da bola) eis que chega novamente a altura de voltar a abordar um dos meus ódios de estimação. Como não vou falar de Scolari (sob pena de ser logo classificado de anti-patriota), torna-se fácil concluir para os que me conhecem que o visado será Rui Rio.

- Quando lhe caiu no colo a Câmara do Porto, devido ao furacão anti-Guterres que assolou o país e porque Fernando Gomes a perdeu (sim, porque nós os portuenses somos orgulhosos e não admitimos que nos tomem por garantidos), Rui Rio não tinha nem equipa nem programa para a cidade.
- A equipa que acabou por escolher à pressa revelou-se desastrosa e de todo o seu 1º mandato ficaram apenas e só 3 notas de maior registo, as únicas que qualquer pessoa mesmo que atenta à cidade pode ainda hoje identificar : 1- a não construção na orla do parque da cidade (ainda falta ver a que custo); 2- a polémica do plano de pormenor das Antas (que só serviu para arrancar 5 milhões de euros ao Grupo Amorim e dá-los à D.Laura) e a “guerra” com o FCP/futebol (que merecerá análise mais detalhada lá para a frente); 3- o grande prémio de automobilismo na Boavista (ideia absolutamente peregrina, típica de um “beto” saudosista de se passear nos paddocks, mas que pelos vistos até dá lucro…). De resto, não houve nem há uma ideia condutora, um grande projecto que motive a cidade e a faça crescer. Confesso que para meu grande espanto isto foi suficiente para lhe valer a reeleição com maioria absoluta.
- Em tudo o resto, leia-se política cultural, requalificação urbana, afirmação do Porto como pólo aglutinador do Noroeste Peninsular (como os políticos tanto gostam de dizer), combate ao desemprego, promoção de uma cidade com melhor qualidade de vida, etc… Rui Rio falhou. Não há agente cultural da cidade que lhe reconheça algum mérito e, por exemplo, a forma como lidou com a Casa da Música (usada apenas e só para ajustar contas com Burmester) foi vergonhosa. O Rivoli foi primeiro abandonado para agora ser mais facilmente privatizado (o que pode até significar o fim do FANTAS na cidade) e quanto à tão propalada recuperação da Baixa, depois de 5 anos de RR temos como único resultado a ameaça velada que paira no ar de que a UNESCO poderá decidir retirar a classificação de Património da Humanidade, por evidente degradação do estado do parque habitacional. Já estava mal, ficou ainda pior.Investimentos como o Corte Inglês, que poderiam devolver alguma vitalidade a uma zona tão abandonada, foram quase que empurrados para o outro lado do rio.
- Falando da pessoa em si, ou melhor do comportamento pessoal de RR enquanto Presidente da CMP, o que salta à vista é uma visão paranóica do mundo que o rodeia. Ele vê-se como o único detentor da verdade e junta na cabala para o atingir empresas como o JN, o DN e o Público. Até a Polícia Judiciária já mereceu idêntica apreciação. As recentes notícias vindas a lume acerca da utilização e do site da CMP (que anda a ser usado como veículo de propaganda a RR e de ataque aos seus críticos) são só a última demonstração duma evidente falta de espírito democrático e da flagrante incapacidade de lidar com opiniões divergentes da sua. Querem apoios camarários? Não se atrevam a criticar. Querem falar com os vereadores? Só por escrito e com prévia autorização do manda-chuva. Querem enquanto munícipes assistir às reuniões e colocar os vossos problemas? Mandem postais.Isto já para não falar do raciocínio, à lá caudilho, que RR faz ligando o ter sido eleito com um qualquer direito de saltar por cima das leis existentes (veja-se o inacreditável caso do túnel de Ceuta e as declarações do Presidente da CMP a seu respeito).
Como justificar então o sucesso eleitoral de RR? Em grande parte porque, e contrariamente à ideia que circula na opinião pública, RR usa e abusa do futebol e conseguiu através deste conflito assegurar uma imagem de seriedade e de luta contra lobbys (ainda para mais sendo o Pinto da Costa uma figura tão amada no País…). Diga-se no entanto que a sua já longa associação política com Valentim Loureiro é estranhamente ignorada pela comunicação social dominante.
Esta sua guerra contra o futebol assegura-lhe outra coisa: garante que os verdadeiros problemas da cidade e da sua (não) gestão não serão discutidos. Fica este exemplo: um dia, num casamento de uma amiga da A., envolvi-me numa conversa sobre RR com um tipo com o qual aliás nunca me entendi muito bem. Falei de tudo, não só do que já leram acima, mas de outras situações que me abstenho de citar para não alargar mais este já extenso lençol. No final, ele virou-se para mim, encolheu os ombros e disse apenas: Oh pá, só dizes isso porque és portista.
A vox populi diz que Rui Rio é sério, o que sendo positivo não deixa de ser o mínimo exigível. O que faz falta é ser-se competente no que se faz e a sensação que tenho ao ver a forma como RR se relaciona com a cidade e os seus agentes (e não, já disse que não estou a falar de futebol) é a de algum incómodo, como se encarasse o cargo na CMP como uma etapa necessária mas algo chata na sua carreira política.É uma apreciação naturalmente subjectiva, mas atrevo-me a dizer que Rio não morre de amores pelo Porto, ou fraseando a coisa de outra forma, gosta muito pouco de ser o seu presidente.

21.7.06

Ao longo da minha vida fui acusado várias vezes de ser um gajo exagerado. Fui também repetidamente acusado de ser um gajo que lida mal com a mudança, uma criatura de hábitos, e pior ainda, um gajo com tendência para a acomodação. Com o sentido de auto-crítica que tenho, que diga-se foi nascendo pela calada com o passar dos anos, venho por este meio afirmar que era tudo verdade e disponho-me até a corroborar esta afirmação com alguns exemplos.
Exagerava sempre que dizia, ao comer mais uma francesinha acompanhada pelo indispensável fininho, que no mundo e arredores não havia nada melhor e que era capaz de comer aquilo todos os dias, durante toda a vida.
Quando o Público mudou de grafismo, na fase em que o lia diariamente sem falta, amuei e chamei-lhe nomes como um reles amante traído, até ter conseguido pouco a pouco superar o trauma.
Quando entrava no café onde fiz o curso, pelo menos nos 4 primeiros anos até aquilo virar churrasqueira, dava-me um gozo supremo, uma fútil sensação de superioridade sobre os clientes de ocasião, virar-me para o Sr. António (um porreiraço como poucos conheci na vida) e dizer "o costume" do alto das minhas tamanquinhas. Ainda hoje aliás, tenho uma pouco saudável dificuldade em estar num café e não pedir "uma torrada e uma meia de leite directa".
No dia em que comuniquei aos meus melhores amigos que ia dar o nó passados 2 ou 3 meses , saiu-me um "em princípio vou-me casar", lapsus linguae que me irá ser merecidamente atirado à cara para o resto da vida.

"Todo o mundo é composto de mudança" e eu, não fugindo à regra, também mudei. Analisando todas as cambiantes, acho que nos últimos 15 anos mudei mais que os ideais do Partido Comunista Português e menos que o Michael Jackson. Continuo a ver futebol com uma paixão irracional, mas diminuí francamente o número de asneiras que digo. Continuo a ter orgulho em ser tripeiro, mas já não moro no Porto, já não sou bairrista e acho que já não troco os b's pelos v's (ou seriam os v's pelos b's?). Continuo a detestar acordar de manhã e ter que num estado de meia vigília passar uma lâmina afiada junto às carótidas, mas já não me dou ao luxo burguês de andar com aspecto de arrumador. Continuo a não gostar de farinha de pau, mas devoro com um prazer quase pecaminoso bróculos, cebola e grelos (tudo coisas que antes me suscitavam apenas um ar levemente enjoado).Continuo, como se pode comprovar, a gostar de me ouvir e de me ler, continuo com a convicção que tenho coisas válidas a dizer, a acrescentar ao ruído geral.
E continuo a ter uma estranha tendência para me desviar dum objectivo inicial, que no caso deste post era tão somente dar-vos conta que me rendi totalmente aos encantos da cozinha japonesa (empurrado pela A, pelo cM e pela S.).Para um gajo que há 4 anos, e após a 1ª experiência com sushi, acabou a noite a cear 3 bifes em casa da mãe, isto é uma grande mudança.
Fica a sugestão, fica o nome do restaurante (Terra, na Foz) que a S. e o cM descobriram e fica também um conselho de amigo: provem de tudo, porque é tudo óptimo. Bom, tudo menos aquela mistela verde com propriedades explosivas e o gengibre que, com um pedido de perdão ao requintado paladar do cM, sabe a pétalas de rosa.Ah, e continuo ainda e sempre a falar de mais.

18.7.06


Atenção aos incautos: segue-se um post de conteúdo pornográfico e de gosto discutível…

Já vai com uns dias de atraso devido a alguma falta de tempo, mas não podia deixar passar sem uma referência este invulgar acontecimento.A menina da foto, uma espanhola com o sugestivo nome de guerra de Sónia Baby, foi uma das estrelas da recente 2ª edição do Salão Internacional Erótico de Lisboa. Ora isto por si só não é grande feito e não lhe garantiria o duvidoso privilégio de figurar como tema de post neste blog de um macho lusitano, espécie que como se sabe é por tendência exigente quanto à qualidade da comida que a esposa prepara, impiedoso quanto às exibições da sua equipa de futebol e dedicado servidor das suas amantes, que normalmente prefere alouradas, burras e com peitos volumosos.
Mas voltando então à Baby, que me cativou a atenção numa pequena notícia de telejornal, ela é nem mais nem menos que a mais recente coqueluche do cinema porno espanhol (diga-se de passagem que o castelhano é talvez a língua no mundo que melhor se presta à pornografia…), e destaca-se das demais companheiras por ser uma auto-intitulada acrobata vaginal. Numa altura em que a globalização e os gurus do neo-liberalismo insistem na importância da especialização como uma mais-valia, é de convir que ser doutorada num campo tão difícil e tão pouco explorado como o das acrobacias vaginais é claramente um ponto positivo para se ter num curriculum vitae. Sem mais delongas, diga-se que Sónia Baby tentou (no dia 14 do corrente mês) colocar uma corrente metálica com 20 metros dentro da sua vagina (o que caso tenha sido bem sucedido veio suplantar o seu anterior máximo de 15 metros). Se isto ainda vos parece coisa de somenos importância, saibam que iria também escrever com a vagina, retirar bandeiras e bolas de pingue-pongue. Para finalizar, e honestamente não posso garantir totalmente se de facto ouvi isto ou se já sou eu a delirar, ia jurar que Baby ia incluir no seu show (termo que raramente terá sido tão bem empregue) o arremesso ao ar de bananas. Segundo palavras da própria, num momento de rara inspiração, ”vai ser um pouco de tudo”.
Saibam ainda os mais curiosos que quando inquirida acerca da sua posição sexual favorita a actriz terá respondido, rápida e entusiasticamente, “Em cima dele, dominando. Pum! Pum! Pum!”.
Abstenho-me de tentativas infantis de fazer graçolas fáceis, confesso que desconheço o desenlace do show e deixo o meu protesto por o espectáculo só decorrer em Lisboa, privando o resto do país da oportunidade de ver ao vivo esta atleta, versão moderna da mulher barbuda e do homem elefante e património da masculinidade.

P.S.- é algo envergonhado que me vejo literalmente obrigado, pela A., a deixar como adenda o seguinte esclarecimento: a parte em que se fala do macho lusitano é pura ficção e não tem nenhuma semelhança com a realidade deste que por ora vos fala. Ouvi tudo aqui num café perto de casa, numa cavaqueira entre 2 gajos gordos, carecas, de bigodes farfalhudos e com notória falta de dentes (essas sim, características típicas dos verdadeiros machos lusitanos…) juntamente com um aguçado sentido de auto-preservação e obediência à mulher.


14.7.06

Uma lição

Em todos os rankings internacionais relativos aos fenómenos da corrupção e morosidade/qualidade da justiça o nosso país está mal colocado (isto num contexto europeu).
A Itália, país da moda, das pizzas e das pastas, de Roma e Florença, do Vaticano, da comorra, de Leonardo e Michelangelo, de Cicciolina e Berlusconi, etc e tal..., também neste campo se tem destacado pelos piores motivos.
No entanto, e enquanto por cá vivemos o folhetim apito dourado há mais de 2 anos, sem um final lógico à vista e com um enredo ao nível das telenovelas mexicanas, e agora nos entretemos com a verdadeira palhaçada que é o caso Mateus, essa mesma Itália acaba de dar ao mundo uma demonstração (sem paralelo?) de rapidez e eficiência na aplicação da justiça. Ainda mais impressionante se tomarmos em conta que os envolvidos são apenas e só os mais poderosos e prestigiados clubes de futebol.
Dá vontade de rir pensar no que sucederia cá pelo luso burgo se, por exemplo, o Porto e o Benfica fossem condenados a descer de divisão ou a começar campeonatos com menos 10 ou 20 pontos que os restantes rivais. Atrevo-me a dizer que bem mais que todas as medidas de combate ao défice, bem mais que os ataques aos direitos adquiridos (supostamente para toda a eternidade, na mente de alguns...), uma situação dessas daria origem a um levantamento popular, ao estilo de um novo 25 de Abril.

10.7.06

O Mundial.

Acabou. Parabéns à Itália, à bela Itália, pelo mais que merecido tetracampeonato. Porque tem Cannavaro e Pirlo (a quem alguns portugueses, idiotas iletrados com o pomposo título de especialistas da bola, insistem em chamar Pilro!!!). Porque nos proporcionou o melhor momento do mundial (o prolongamento contra a Alemanha). E porque a França não merecia ganhar, depois daquela demonstração de cinismo e catennacio na 2ª parte contra Portugal.

Acabou. De forma pouco coerente com a brilhante carreira que teve, o melhor jogador do mundo da última década despediu-se com uma cabeçada (aliás bem dada e também ela merecida), à moda do Cais de Sodré.

Quanto ao nosso mundial, cá ficam ao correr da pena algumas notas:
-Scolari mostrou que é de facto um motivador por excelência e um bom treinador de selecções. A boa performance merece ainda mais relevo porque foi conseguida com erros tão óbvios como a titularidade absoluta de Pauleta (quase sempre um jogador a menos tal como no Euro 04), a insistência jumenta em Postiga (um desastre) e em Costinha (a anos luz do que já foi capaz) em detrimento de Nuno Gomes e Petit, a opção de recurso em usar Ronaldo no meio literalmente apagando-o do jogo, a convocatória de Boa Morte (que terá sido seleccionado por saber boasanedotas, tocar viola e cantar de cor as músicas do Roberto Leal, isto tendo em conta o tempo de jogo que teve e a falta de jeito que tem). Acho que Scolari deve continuar porque os resultados assim o exigem e porque seria difícil neste momento alguém que não ele pegar com sucesso na selecção. Continuar seria uma prova de alguma coragem tendo em conta a inevitável renovação de valores que está aí ao virar da esquina.
-Ricardo, que no dia do Portugal-Inglaterra me pareceu o melhor jogador do mundo apesar da voz de miúdo a quem os huevos ainda não desceram e da mania de falar de si próprio na 3ª pessoa, Figo, que mesmo sem pernas para 90 minutos lutou o que pôde, Costinha, Pauleta e outros, que sugeriram várias vezes que criticar a selecção era igual a não quer que Portugal ganhásse, deviam lembrar-se que são apenas jogadores de futebol numa competição desportiva.Tal como todos os demais numa sociedade democrática (incluindo até o Presidente da República) também eles não têm um especial direito divino a pairar acima da crítica numqualquer limbo de unanimismo bacoco. Eu por mim dispenso bem pseudo-lições de patriotismo, que diga-se de passagem não se mede pelo número de bandeiras que se põem nas janelas ou pelo número de camisolas da selecção nacional de futebol que se compram no continente.

5.7.06



Esta 2ª feira, na Casa das Artes de Famalicão, vivi um dos melhores concertos da minha vida graças a estas 2 mulheres, Sierra e Bianca Casidy, aka Coco Rosie. Antes do início do espectáculo corria célere pela assistência o boato 3 em 1 de que: "elas são irmãs, elas são lésbicas, elas são um casal". A 1ª parte é verdade, a 2ª só elas sabem e só a elas interessa, a 3ª será naturalmente falsa.

Quanto ao concerto? peguem em 2 vozes completamente diferentes e ambas capazes de registos aparentemente impossíveis, misturem com sons de bonecos de crianças, pássaros (?), panelas (?) e outras merdas tais e polvilhem tudo com uma batida a meias entre a electrónica e os sons produzidos por um francês vestido à sítio do pica-pau amarelo e com uma performance 1/3 Ben Harper, 1/3 Bob Marley, 1/3 caixa de percussão. Para a noite ser perfeita só faltou aparecer o amigo Antony...Caso não achem esta minha explicação convincente saibam que os entendidos classificam a música delas como indie-folk-tronic (!!!). Como é bela a esquizofrenia...

P.S.- a parte onde se lê "corria célere pela assistência" está francamente exagerada. Era mais entre eu, a A. e outro amigo. É que eu às vezes precipito-me.

A 1ª escolha - parte II. Onde o autor discorre, com alguma dose de pedantismo, sobre livros.

Por outro lado e em nítido contraste com os cd's, confesso que não sou capaz de nomear o 1º livro que comprei sozinho, mas não tenho nenhuma dificuldade em lembrar os últimos. Desde que com 7 ou 8 anos descobri a felicidade agarrado como um viciado aos Cinco da Enid Blyton, o livro nunca deixou de ser para mim um objecto de culto. E não falo só dos conteúdos, das histórias mais ou menos interessantes ou mesmo das diferentes formas de escrever de cada autor. Falo de uma atracção física pelo objecto em si, pelas suas formas, pelas suas texturas. Gosto da sensação táctil do virar das páginas, gosto do cheiro que delas emana. Gosto da solidão e daquela paz tranquila que só consigo atingir quando estou a ler. Gosto de dar largas à imaginação, de abandonar nem que seja por breves instantes o local em que estou e o corpo que a minha alma habita para pairar livremente sobre outros locais e sobre outros corpos. Admito que possa soar elitista e a armar ao pingarelho, mas a verdade é que poderíamos perfeitamente generalizar um conhecido dito filosófico e propor algo do estilo diz-me que livros leste e dir-te-ei quem és.
Já fiz há tempos um top 5 de cd’s e de filmes, mas acabei por nunca conseguir organizar, dessa forma necessariamente simplista e redutora, o meu gosto pelos livros. É que tal como para as pessoas que connosco se cruzam na vida, também para determinados livros há um tempo certo, uma altura ideal para com eles entrar em contacto. Não sei dizer se neste momento teria algum prazer em ler por exemplo Os Capitães da Areia, de Jorge Amado, mas sei que quando tinha 13 ou 14 anos o devorei completamente naquilo que foram 2 longas noites, com lágrimas constantes e algo salgadas a caírem dos olhos para os cantos da boca, e com o meu irmão a dormir tranquilo na cama ao lado e a cidade e os seus poucos habitantes nocturnos de então, as putas, os clientes e os taxistas, do lado de fora. Lembro-me do gozo que me deu descobrir Eça de Queirós e os seus Maias, Carlos e Eduarda, o seu Padre Amaro e aquele seu fabuloso Raposão com a inenarrável relíquia para a titi. Nunca me esquecerei do frenesim quase infantil em que vivi mergulhado durante a leitura do Senhor dos Anéis ou da emoção contente que tirei do Velho que lia Romances de Amor e do seu fantástico episódio do dentista itinerante e do tipo que tirou todos os seus dentes sem anestesia por causa duma aposta com os amigos. Lembro-me também da descoberta de Mário Vargas Llosa na sua Festa do Chibo e do fabuloso Pantaleão com as suas visitadoras, o melhor chulo jamais contado. Não quero também deixar de mencionar, apesar do post já ir longo, quiçá até demasiado, Paul Auster, outro dos meus habituais escritores de mesinha de cabeceira e já agora Umberto Eco com quem aprendi o verdadeiro significado de Dominicanos.
Numa altura em que qualquer roto escreve um livro (não sei se é real mas parece-me que tudo começou quando a Caras Lindas, esse génio da literatura, lançou o Sandálias de Prata...) mas em que paradoxalmente as novas gerações cada vez lêem menos (não, os jornais desportivos e os sms's com língua de trapos não contam) eu, que de anos só conto 30, vejo-me compelido a fazer ainda e sempre esta figura de velho do restelo.

3.7.06

A 1ª escolha, ou pelo menos uma das...

Um dos momentos mais marcantes na minha transição entre miúdo e adolescente, fase tantas vezes penosa e tão repleta de mini-dramas, foi a 1ª vez que tive oportunidade de comprar algo para mim, a possibilidade de escolher aquilo que verdadeiramente queria sem ter os meus pais ou outro adulto qualquer a olhar por cima do ombro (outra coisa que também marcou essa fase, com viscosos tons de amarelo purulento, foi a presença mais ou menos constante daquele fenómeno conhecido pelo terrífico nome de acne juvenil, entidade castradora da auto-estima e do sucesso com o sexo oposto).
Mas voltando ao início, que como se sabe é normalmente o lugar ideal para se começar, dizia eu que me marcou essa 1ª escolha, essa agradável sensação de estar sozinho numa loja repleta de gente, só eu e os 3 ou 4 contos que trazia nos bolsos das calças (que eram obviamente de ganga como está bom de ver depois de anos e anos em que só andava de calças de fato de treino). Era, a tal loja, cujo nome não recordo (Tubitek?) mas que morava na Praça D.Manuel I em pleno coração da baixa portuense, uma discoteca, saudosa recordação daquele longínquo passado em que as lojas só vendiam um tipo de artigo. A minha escolha na altura, na única oportunidade que tive, que qualquer um de nós tem para fazer a primeira escolha, recaiu sobre um fabuloso cd chamado "Morrison Hotel" daquela mítica banda the Doors. Quase 20 anos depois não deixa de ter algum significado que me lembre tão bem desse momento mas que não seja honestamente capaz de dizer qual foi o último cd que comprei, nem já agora quando isso aconteceu.
Entre amigos que sacam (belíssimo eufemismo) músicas da net e cd’s copiados directamente de originais que alguma avis rara tenha comprado, a minha motivação para gastar dinheiro nestes produtos é praticamente residual. É de facto difícil encarar a pirataria de cd’s, e já agora de DVD’s, como um crime a evitar, pela simplicidade do processo e porque toda a gente faz o mesmo (um pouco como acelerar quando o semáforo está amarelo).

continua...

29.6.06

Pork & Cheese...

A avaliar pela imprensa escrita os ingleses de facto não se enxergam e só demoraram 1 ou 2 dias a dar mostras de toda a sua arrogância e mania de superioridade. Começando por classificar a nossa selecção de violenta, teatral e sem interesse em jogar o jogo pelo jogo e passando pelas já costumeiras técnicas de inventar entrevistas a jogadores portugueses atribuindo-lhes afirmações provocatórias, os ingleses dão novamente mostras de uma incapacidade total de aprender com o passado e os erros cometidos:
- não bastou que o Porto de Mourinho (na altura também apelidado de equipa teatral) tivesse eliminado o Manchester,
- não bastou que o Benfica tenha despachado o então campeão europeu Liverpool,
- e finalmente não bastou que a nossa selecção lhes tenha tirado a tosse nos 2 últimos europeus,...não, tudo isto ainda não bastou.
Dói-lhes fundo na alma que os "pork & cheese" (nome pelo qual carinhosamente tratam os nossos emigrantes) se atrevam a bater o pé à toda poderosa Albion, pátria inventora do futebol. Juntando isto ao facto de que, como sempre, praticamente só os adeptos ingleses estão a criar problemas de segurança e a estragar o clima de convívio e festa neste mundial, é uma obrigação não apenas desportiva mas também de ordem moral que nós, humildes tugas, lhes carimbemos o passaporte de regresso à sua bonita ilha.

27.6.06

Pensamento do dia...

Sempre que uso as únicas cuecas brancas que possuo, tenho uma irresistível vontade de cagar.
É um caso de escatologia cromática.

22.6.06

Para além dos nossos 2 golos e da substituição do Postiga...

os melhores momentos do Portugal-México foram:
-Quando a meio da 1ª parte o Maniche, numa jogada de contra ataque rápido, sofreu uma falta à entrada da grande área adversária e o repórter de campo da SIC, aquele poço de inteligência chamado Nuno Luz, diz que..."olhei olhos nos olhos com o Maniche e..."
-Quando o Tiago atirou por cima da baliza numa recarga a uma defesa do guarda-redes mexicano e Humberto Coelho, ex-seleccionador, actual comentador especializado e eterno jogador de golfe, disse que.."era difícil porque a bola estava desequilibrada".

20.6.06

FCP 2006-2007





Bom, ao menos estarão lá as quinas na manga...

19.6.06

A coisa promete

O canal 2, ou simplesmente a 2: como agora se chama, passou recentemente uma série chamada “A Linha da Beleza”, com a chancela (termo que há muito tinha vontade de usar) de qualidade da BBC. Esta série poderia facilmente ser o tema deste post, mas não o é, pela singela razão de eu não a ter visto. De qualquer forma, diz-me a A. (que também não a viu mas que acabou agora de ler o livro na qual a série se baseou) que para além daquilo que podemos ler na sinopse que a 2: nos proporciona, o enredo trata também de homossexualidade masculina, e de uma forma bastante explícita (creio que as palavras dela foram o livro é bom mas não sei se terás estômago para o ler; comentário que surge como um assunto derivado da questão de eu ser reconhecidamente um tanto ou quanto homofóbico…). Não sei se a versão televisiva se manteve fiel ao livro, mas vamos por mera conveniência minha assumir que sim e tomar como facto que a 2: nos terá presenteado com uma série sobre homens gays.
Não sei se imbuídos num espírito messiânico de promoção da tolerância, ou de igualdade entre géneros, ou por acharem (e bem) que o sexo vende, ou se finalmente por mera coincidência, mas a verdade é que os directores da mesma 2: nos vão agora dar a ver uma nova série sobre homossexualidade, agora feminina, ou seja sobre lesbianismo (termo que me dá um certo gozo usar, de uma forma infantil e quiçá até um bocado pacóvia, mas não deixa de ser verdade), e que dá pelo algo óbvio nome de: "the L word". Segundo o Público: “…as mulheres são lindas e sofisticadas…trabalham (pouco), namoram muito e passam a vida embrulhadas em cenas de sexo escaldante…”.
Se alguém se deu ao trabalho de criar uma série assim, eu amsa, digno e honrado portador de pénis e Ser carregado de testosterona, sinto-me na obrigação de ver pelo menos o 1º episódio, quanto mais não seja por cortesia.
É hoje, já depois dos meninos e meninas bem comportadas irem para a caminha.

17.6.06

As primeiras 2400 horas.

Esta 6ª feira, de trabalho para uns e ponte para outros, serviu para assinalar o 100º dia da presidência de Cavaco Silva. Como sempre acontece em política, a passagem deste marco temporal é aproveitada para se fazer um primeiro balanço da actividade, o que a mim se me afigura como injusto. 100 dias? É curto, e só se justifica pela sede mediática de criar notícias. Serve essencialmente para os analistas políticos da praça, os mesmos de sempre, se entreterem num fútil exercício de adivinhar intenções futuras, ler pseudo sinais que só eles conseguem descortinar ou analisar a coisa de forma a concluirem, egocêntricos e impantes como balões soprados ou perús de Natal recheados, que se confirmam as ideias que eles próprios já tinham acerca do que se iria passar. De facto, a única altura num passado recente em que 100 dias se revelaram como um espaço temporal demasiado longo foi no Governo de Pedro Santana Lopes, que Deus o guarde com saúdinha e sempre andando por aí, de preferência bem longe de poder interferir de novo nos destinos do luso Reino. Quanto ao dito cujo Professor Aníbal, lá vai andando inevitavelmente com a cabeça entre as orelhas ou não fosse ele apenas mais um de nós nobres Portugueses, paridos das costelas de Viriato e Afonso Henriques, descobridores de novos mundos para o mundo, outrora donos de impérios, colónias e províncias ultra-marinas, inventores da francesinha, do fado e da sempre eterna saudade, pátria da especificidade (a mais portuguesa das palavras do novo século).
Mas voltando ao assunto, diga-se que o nosso Presidente se tem mantido basto activo. Já discursou, já vetou, já fez roteiros. Já criticou ministros mas também já os apoiou. Visitou tropas e até vestiu casaco camuflado. Tal como prometido manteve uma atitude positiva e cooperante com o Governo e com o seu alter ego José Sócrates. Evitou ser filmado a comer e reduziu para números bem mais razoáveis a distribuição de comendas, medalhas e grão-ordens disto e daquilo.
Em 100 dias, não está nada mal.